Canal de Opinião: por Luís Nhachote
Finalmente, o Presidente da República, pareceu ter dado sinais indicadores de que também sabe ouvir, o que dizem os com voz, e os sem voz.
Deixou de fazer ouvidos de mercador, esperou os ânimos amainarem, pegou na caneta, e zás, exonerou o ministro da Defesa, Tobias Dai, por acaso seu cunhado.
Aplaudir a decisão do Chefe de Estado? Na minha óptica, vai muito tarde "camarada" presidente...
Há muito, que sectores vários esperavam por essa medida, e o chefe de Estado, pareceu-me não querer ceder à pressão da chamada «sociedade civil» e de milhares de famílias que já estiveram a rezar as missas de 12 meses sem os seus entes queridos.
Foi a 22 de Março do ano passado, que a negligência de quem de direito, levou a que o paiol de Malhazine vomitasse os seus artefactos e a capital do país estivesse horas feito um autêntico Bagdad.
Pelos céus de Maputo cruzavam-se sentidos vários e em assobios estridentes os artefactos assassinos, escreviam rimas na carne do povo, que só horas depois, em luto e dor, viu o seu "comandante-em-chefe", algo trémulo, nas câmaras de televisão a fazer o seu acto de contrição.
Na hora de se exigir as responsabilidades, se a memória não me trai, Dai, o Tobias saiu-se por ai a dizer: "não sou guardião do paiol". Em parte ele tem razão. Só que lhe faltava informação complementar: perante situações semelhantes exige-se a cabeça do chefe.
Mais: nas horas em que se tremia e gemia-se um pouco por todo o Maputo, o agora já exonerado ministro da Defesa Nacional, aconselhava, no espaço cedido pelas câmaras da televisão, os cidadãos a ficarem na "posição horizontal" e a fecharem as janelas. Para os entendedores da ciência militar, as declarações de Dai, o Tobias, deveriam constar nos manuais da estupidez e da imbecilidade militar.
Num país que se pretenda normal, Dai, o Tobias, deveria – mas essa lógica parece não servir aqui – por iniciativa própria colocar o seu lugar à disposição.
E, como ainda caminhamos para um país normal, lá continuou sentado o ministro e com as inerentes regalias e, o chefe de Estado num silêncio algo sepulcral, deixaram os mais esclarecidos numa situação dividida entre o riso e o choro.
Rir ou chorar, tem sido esse, o dia a dia de milhares de moçambicanos, na histeria colectiva da nossa "Pátria Amada".
Há dias, e cá se fez eco disso, para as bandas da Albânia, o ex-homologo de Dai, o Tobias, após a explosão de um arsenal de armas que matou 15 pessoas, não esperou pelo "Guebuza de lá" para exonerá-lo. Puxou das mãos pô-las na consciência e fez a única coisa que lhe restava.
Às vezes – ocorreu-me isso agora a 22 de Março, quando fui visitar um amigo que ficou sem as mãos naquele fatídico dia – tenho perguntando para os meus botões, se os nossos dirigentes tem levado, alguma vez as mãos à consciência. As decisões do chefe do Estado, carregadas de pragmatismo começam-nos a remeter para outros campos de análise.
O da Defesa, não é o primeiro Ministério em que exonera o ministro e não passa o vice para ocupar aquela posição.
Ao que parece, é isso que começa a ficar transparente, numa altura em que crescem as informações de que há ministros que não trocam dedos de prosas com os seus vices, é que a luta dos "tachos" está ao rubro nas suas batalhas campais.
Lembro-me como se ontem, e disso fizemos destaque no «Canal de Moçambique», que o outro exonerado ministro dos Transportes e Comunicações, Munguambe, o António, aquando da celebração dos seus 50 anos de idade, por via de uma circular "lembrou" aos seus colaboradores das instituições ao ministério tuteladas, para não se esquecerem dos "presentes". Hoje paro por aqui, nesta minha humilde e pequena tentativa de perceber a descunhadização do Governo. Voltarei em breve!
(Luís Nhachote)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 28.03.2008
Recent Comments