Alarma a indiferença que se mostra em relação às advertências que algumas vozes fazem contra o perigo que representa produzir biocombustível no lugar de alimentos. Em causa está o facto de os produtores de alimentos, mormente camponeses, serem provavelmente o grupo económico e social que pode vir a ser chamado a distrair-se em relação ao que parece seu dever em países como o nosso, que têm de produzir mais do que o que têm conseguido para reduzir a diferença entre o que o mesmo país consome e o que de facto tem produzido.
Maputo, Sexta-Feira, 28 de Março de 2008:: Notícias
Por partes: Todas as elites estabelecem as suas prioridades para a sua própria sobrevivência como grupos sociais.
Presentemente, o grupo mais influente na gestão do país entende que Moçambique tem a vida encarecida por causa do agravamento constante dos preços de combustível. A ideia é minorar, reduzir até ao máximo possível o sofrimento das populações, colocando à sua disposição as condições básicas de vida a preços suportáveis. Nada mais santo!
O problema está identificado: alto custo de vida dos moçambicanos, sendo uma das maiores causas a alta dos preços do combustível, produto importado.
Estratégia: uma vez sabida a doença de que se sofre, identifica-se o remédio como sendo a produção de combustível através de recursos biológicos, vegetais ou seus derivados. Fala-se de jatropha, também conhecido por “gala maluco” (as minhas desculpas pela ortografia, se ela for incorrecta) e de copra.
Estando Moçambique a navegar em marés da democracia e, sendo do Governo a ideia dos biocombustíveis, os seus opositores contrapõem a esta possível revolução industrial e argumentam que a tal “jatropha” (1) é uma planta tóxica que pode envenenar os solos por muito tempo, tornando-os improdutivos naquilo que interessa às populações; e (2) que a produção de biocombustíveis se desaconselha por ocupar os camponeses numa produção que não lhes dá alimentos.
A tratar-se de um debate público que encontra mesa mesmo em fóruns de soberania como a Assembleia da República, para além de painéis difundidos por destacados órgãos de comunicação social, torna-se urgente um esclarecimento que seja definitivamente convincente.
As conversas de café não tomam a sério o assunto biocombustível. Parece ambicioso demais para os produtores de petróleo o toleraram até ao ponto de produzir os resultados desejados em Moçambique e em outros países que estejam a ter por esta estratégia a mesma paixão.
Porém, os jornais revelam uma grande paixão nutrida por empresários pelos combustíveis da jatropha e da copra. Os empresários apaixonam-se por aquele negócio que lhes garanta lucros. Vale a pena tomá-los à sério? O que é um caçador de lucros? Vale a pena tomar a sério os que defendem que os camponeses e as terras férteis devem continuar a produzir alimentos e não ilusões venenosas?
Por outras palavras: o assunto está a interessar apenas a políticos e a empresários. O que dizem os cientistas?
António Eduardo