Novo relacionamento bilateral
O Presidente da República, Cavaco Silva, inicia na segunda-feira uma visita oficial de três dias a Moçambique que pretende assinalar "um novo ciclo" nas relações entre os dois países, disse quarta-feira uma fonte oficial da Presidência.
O novo quadro nas relações é justificado com o conjunto de desafios vencidos por Moçambique , nomeadamente a implementação do processo de paz, saído dos acordos de Roma de 1992, e a consolidação da democracia. "Moçambique tem hoje uma democracia consolidada, que tem sido complementada por um desenvolvimento económico bastante significativo", acrescentou a mesma fonte. Também pela primeira vez desde a independência de Moçambique, em 1975, a visita de um alto responsável português vai realizar-se já sem o espectro do "dossier Cahora Bassa", a hidroeléctrica de Tete que em finais de 2007 reverteu finalmente para o Estado moçambicano. Com uma história pessoal ligada ao país do Índico - onde cumpriu o serviço militar obrigatório e passou os primeiros anos de casado - Cavaco Silva aposta ainda nas boas relações pessoais com o seu homólogo, Armando Emílio Guebuza, e com outros dirigentes, como o presidente do município de Maputo, Eneas Comiche, para reforçar a "relação muito próxima" dos dois países. Como sinal para a importância da visita, acompanham Cavaco Silva quatro ministros portugueses (Negócios Estrangeiros, Defesa, Educação e Cultura) e os secretários de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação e do Comércio bem como deputados dos partidos com assento no Parlamento. Na comitiva estão ainda representadas 45 empresas portuguesas, seleccionadas pela AICEP de um conjunto de 150 candidatas, e que integram os principais investidores portugueses em Moçambique.
É o caso do Millennium bcp, que lidera o sector bancário local, e também da CGD e BPI, que partilham outro dos principais bancos do País.
EDP, GALP, Águas de Portugal, Teixeira Duarte, Soares da Costa e Visabeira, com investimentos significativos no País, são outras das empresas que integram a comitiva, tal como os representantes de um dos produtos que mais cresceram nas exportações de Portugal para Moçambique: o livro escolar.
Nos últimos anos, Porto Editora e Grupo Leya têm disputado com editoras internacionais um grande mercado de livro escolar e o grupo recentemente formado pelo empresário Pais do Amaral apresenta no seu catálogo "estrelas" da literatura moçambicana, como José Craveirinha, Mia Couto, João Paulo Borges Coelho e Paulina Chiziane.
No turismo, outro sector com forte presença portuguesa, a TAP (que desde 2006 tenta aumentar a frequência semanal dos seus voos para Maputo), Grupo Pestana, Amorim Turismo e Grupo VIP são outras das empresas que acompanham a viagem presidencial.
A ofensiva empresarial é, em Maputo, complementada com a realização de um seminário económico no qual participam os dois presidentes e empresários de ambos os países. Durante a sua presença em Moçambique, Cavaco Silva manterá um extenso programa institucional, com intervenções com o seu homólogo e na Assembleia da República, e receberá ainda o líder da oposição, Afonso Dhlakama, presidente da RENAMO.
Na capital moçambicana, o chefe de Estado participa no colóquio "Português, Língua global" - que junta nomes como Luís Bernardo Honwana, Francisco José Viegas, Licínio de Azevedo e valter hugo mãe - e manterá encontros com a numerosa comunidade portuguesa residente em Moçambique. Na única deslocação fora de Maputo, Cavaco Silva viaja para a Ilha de Moçambique, a emblemática primeira capital do espaço que é hoje o país a que deu o nome e declarada património mundial pela UNESCO. A Ilha, na província de Nampula, norte, é hoje um local à procura de uma intervenção urgente que a reabilite dos efeitos causados pelo dramático aumento da sua população nos anos da guerra civil (1976-1992). A intervenção, na qual a cooperação portuguesa se tem empenhado, obriga a um projecto integrado de desenvolvimento, em conjunto com as autoridades moçambicanas, e envolvendo as áreas continentais adjacentes, de acordo com um recente estudo.
Na Ilha de Moçambique, Cavaco Silva visita locais marcantes da presença portuguesa, como a Fortaleza de São Sebastião e o Palácio de São Paulo, e assiste à apresentação do projecto "Ilha de Moçambique e Lumbo, vilas do Milénio".
(Redacção e Lusa) - MEDIA FAX - 21.03.2008
Recent Comments