A agência noticiosa portuguesa 'Lusa' acaba de dar notícia das filmagens da película «O Assalto ao Santa Maria», a bordo de um antigo navio-hospital da frota bacalhoeira que floresceu em Portugal durante o Estado Novo. Esse agora navio-museu é o 'Gil Eanes', que os próceres do regime abrilista deixaram ir para a sucata e quase foi desmantelado no estuário do Tejo, antes de ser comprado e rebocado para Viana do Castelo.
O facto de se estar a fazer um filme sobre o assalto ao Santa Maria - um dos vários paquetes que houve até 1974 na poderosa Marinha Mercante portuguesa! -, por um grupo luso-espanhol, não tem nada de extraordinário. A estória do acontecimento é por demais conhecida e não admirará quem quer que seja que se faça novamente o seu aproveitamento político favorável aos senhores do Poder saídos do golpe militar de 25 de Abril daquele ano.
O que causa estranheza extrema é, no entanto, a forma como a 'Lusa' dá a notícia desse assalto assassino (foi morto pelos bandoleiros um jovem oficial português), começando por sublinhar que ocorreu em 1961, o «annus horribilis» da «ditadura salazarista».
...Mas o «melhor» (da 'Lusa') vem depois, quando a (mais que desacreditada) agência noticiosa refere que nesse ano de 1961, e para além daquele assalto, houve o desvio de um avião da Tap, o golpe de Botelho Moniz, a anexação de Goa, Damão e Diu pela União Indiana e o... «início da guerra de libertação de Angola».
Chamar «início da guerra de libertação de Angola» aos terríveis massacres de crianças, mulheres e homens, negros e brancos, pelos selvagens da UPA, era a última coisa que se poderia esperar de uma agência noticiosa dita... portuguesa.
Embora não se ignore o grau de ignorância e despudor de uma certa 'jornalística' em Portugal, será que este bárbaro insulto vai passar sem um pedido de desculpas dos responsáveis da tal 'Lusa'?
A. Santa Cruz