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Mbila - Musica de Moçambique
O escritor moçambicano, João Craveirinha, reagiu às declarações de Alberto Mula, o manjacaziano, segundo as quais a marrabenta é de Chibuto. Eis a opinião de Craveirinha:
"A Marrabenta não é nem nunca foi de Gaza"... É com muita tristeza que digo: Nunca vi tanta ignorância em Moçambique sobre a cultura moçambicana como agora. Nunca digam que não existem pessoas que sabem quando vocês desconhecem algo da cultura moçambicana. E isso nada tem a ver com especialistas de coisa alguma. Mas sim de conhecimento e de vivência.
A poesia de José Craveirinha descreve a Marrabenta e o local de nascimento no seu poema “Comoreano” que toda a gente da faixa etária dos 70 anos em frente se lembra.
Nem nos anos 1970 da era colonial a ignorância sobre a origem das coisas moçambicanas era tanta como agora.
Tudo isto é fruto do apagão cultural implementado pela "linha correcta" que veio de Nachingweia com todos
os ismos anti-rongas, anti-sena, anti-macua, anti-tetense, anti-manhambane, anti-quelimanense, e, em geral, anti-urbano contra os assimilados que viviam nas cidades moçambicanas. Isto é: a mentalidade do mato (nos seus aspectos negativos), sobrepôs-se à cidade nos aspectos positivos que pode ter (de vida em comunidade mais aberta em modernidade e civilidade). A prova está na falta de urbanidade de que enfermam as cidades de Moçambique. O Sinónimo de Desenvolvimento de um país é as cidades conquistarem o mato e não ao contrário com cobras, lixo e tudo.
Em relação à Marrabenta (nome de raiz de arrebenta do verbo em português), trata-se de um ritmo dentro do género da URBAN MUSIC nascido na Mafalala mestiça e ronga dos anos 1930 a 1940 e da fusão básica da Mâgika do Guijá e da rumba cubana (tocada no Comoreano e no Grupo Desportivo Zambeziano de tetenses,
fundada por Baltazar Chagonga (por sinal fundador do único partido político moçambicano com sede no interior de Moçambique em 1960 a 1964).
Voltando à marrabenta: outros sons intervenientes foram o Zore dos manhambanes também a viverem na Mafalala na década dos anos 1930/40. Foi no Comoreano dos maDjódjos onde tocava o grande guitarrista
mestiço Daíco que a fusão teria se formado. Outro interveniente foi o Chico Albasine, filho de José Albasine do proto-nacionalismo do Grémio Africano, e o Mudapana que trabalhava no John’Orr’s onde hoje está o Banco - MBCM na baixa.
Tudo isto foi dito e documentado num programa da RTK em 1999, intitulado Craveirinha Toque Show -
Que Caminho para a Música Moçambique? O maior compositor da Marrabenta foi o maestro António Saúde
da Mafalala e o 1º negro a ser maestro numa orquestra de brancos em Durban na década de 1940.
O que Dilon Djindji toca é a Mâgika (rural e tradicional – folclore) e não a Marrabenta (suburbana) com
instrumentos modernos ocidentais, que daria a música ligeira e não tradicional. O rei da Marrabenta, Fany Mpfumo (marronga), era adolescente (anos 1940) quando assistia no Comoreano (o dono era das ilhas Comores) onde havia sessões de Jazz, Rumba cubana e Samba tocada por marinheiros brasileiros, norte-americanos, cubanos em jam sessions com músicos moçambicanos. O Comoreano foi o maior salão africano e moderno de baile suburbano em Moçambique na época e multiétnico.
O verdadeiro pai da Marrabenta, o operário José Paixão – o Zagueta – boxeur, dançarino de sapateado e
swing, mulherengo, enfermeiro, espírita e futebolista do João Albasine do Minkadjuíne, ele foi o mestre-divulgador nº 1 dos passos base da Marrabenta quer na Mafalala quer no Centro Associativo dos Negros do Xipamanine, quer na Associação Africana ex-Grémio Africano do Alto Maé dos irmãos Albasines. Outras expressões do Zagueta ficariam célebres ao dançar ( ainda o vi a dançar): Arrebenta; Maria, Executa (o passo…Maria zucuta); Quebra; Risca o chão; senta abaixo; - Zagueta era filho de um branco português e de uma negra ronga.
O poeta -mor, José Craveirinha, em 1960 reabilita a Marrabenta estudando, profundamente, suas raízes e
projecta na cidade de cimento da Lourenço Marques colonial chegando ao Hotel Polana da elite branca em
1962/3 através da pintora moçambicana, Bertina Lopes, e o conjunto italiano “Os Cinco de Roma” que lá tocavam.
No início dessa década a Rádio Clube de Moçambique inicia um programa “África à Noite” de Alberto Mendonça influenciado por José Craveirinha da Associação Africana.
O músico João Domingos (de Inhambane) acrescenta a versão de um músico de Xai-Xai (mestiço), que
nos bailes associativos arrebentava as cordas da viola ao solar um ritmo parente da marrabenta e então um dos presentes pedia que tocasse de novo aquela música que “arrebentava” as cordas. No entanto, e sem dúvida, foi o popular Zagueta que espalharia o nome de Arrebenta e o povo do subúrbio da Mafalala diria “i maRRabenta” ya Zagueta. Tudo isto já foi escrito e dito e repetido parcialmente em imagens no projecto de vídeo de João Craveirinha filmado em 1998/99 em Maputo. VídeoJC projecto para seriado para Televisão.
Há mais, mas por hoje é tudo.
http://www.macua.org/jcvideo/index.html
João Craveirinha, opinião 23/02/2008 –
Reecaminhado daqui:
http://mbila.blogspot.com/2007/12/marrabenta-democambique.html
O AUTARCA - 22.04.2008