"Nós vamos conhecer atrasos significativos no pagamento dos salários". "O estado poderá não ter verbas para a compra de medicamentos para o hospital". São declarações do Ministro do Plano e Finanças, Raul Cravid, quando fazia terça feira, a radiografia da situação financeira do país a luz da crise política despoletada desde 20 de Maio após a aprovação da moção de censura contra o governo. O Ministro anunciou que em consequência da crise política os parceiros internacionais que estavam prestes a financiar o orçamento geral do estado retraíram. A situação é má alertou Raul Cravid, que disse não haver mínimas condições para a realização de eleições legislativas antecipadas contrariando assim a posição do Primeiro Ministro Patrice Trovoada.
Os acordos de apoio financeiro que São Tomé e Príncipe assinou recentemente com os parceiros internacionais estão bloqueados. O Ministro do Plano e Finanças chamou a imprensa para anunciar que a decisão da Assembleia Nacional em aprovar a moção de censura, acabou por comprometer uma série de expedientes que visavam a angariação de fundos para financiar a economia nacional. Segundo Raul Cravid, a acção diplomática do governo de Patrice Trovoada junto a Guiné Equatorial, permitiu a abertura de uma linha de crédito na ordem de 3 milhões de dólares para financiamento de vários projectos de desenvolvimento. O vizinho Gabão também disponibilizou-se a ajudar o país, com mais de 1 milhão de euros. O acordo assinado com a Líbia incluiu 5 milhões de dólares. «claro que com esta decisão dos deputados que votaram a favor da moção de censura, coloca algum travão neste processo todo», afirmou o Ministro.
O Banco Mundial que desde o ano passado anunciou que vai dar ao arquipélago um donativo de 6 milhões de dólares para financiar o orçamento geral do estado, reúne o seu conselho de administração no dia 10 de Junho para decidir sobre o destino da verba. Com o arquipélago sem governo legítimo o Ministro do Plano e Finanças, teme que a decisão seja Não. «Nós cumprimos todas as metas que foram impostas pelo Banco Mundial para conseguirmos este donativo. Somos um governo de gestão e acordos desta natureza só se assina com governos legais e legítimos. Recebi um e-mail do Chefe da missão do FMI que também já manifestou a sua inquietação ao nosso representante junto ao Banco Mundial», sublinhou.
A ajuda financeira do Banco Mundial, representa segundo o ministro do Plano e Finanças, 17% das despesas correntes do estado são-tomense.
Com os cofres do estado completamente vazios, Raul Cravid, diz que o donativo financeiro do Banco Mundial, seria a salvação para um estado em que vários sectores da administração pública já não têm dinheiro para comprar combustível para as viaturas de serviço. É o princípio do fim. «Este é o princípio. Está mau. Está mau. As receitas não são famosas. Muitas despesas não têm sido pagas», alertou o Ministro.
Portugal é outro parceiro que decidiu fazer marcha atrás na implementação do acordo de crédito financeiro assinado recentemente com o Governo de Patrice Trovoada. «Por causa desta decisão da Assembleia vimos adiada uma missão do ministro do estado e do Plano de Portugal que deveria chegar a São Tomé no dia 29 deste mês para assinarmos o acordo de perdão da dívida com Portugal e assinarmos também um memorando de uma linha de crédito que vai até 50 milhões de euros. Desta linha de crédito 50% deste montante ia para o fornecimento de serviços, bens e equipamentos a partir de Portugal e 50% desta linha de crédito ia para as infra-estruturas. Infelizmente teremos esta acção adiada», explicou Raul Cravid.
Face a situação o governo de gestão diz que nos próximos tempos a coisa vai ficar muito mais preta em São Tomé e Príncipe. «Nós vamos conhecer atrasos significativos no pagamento dos salários. O estado poderá não ter meios suficientes para pagar água e luz que consome. O estado poderá não ter verbas suficientes para a compra de medicamentos. Vamos conhecer alguns problemas», reforçou.
Por tudo isso o Ministro do Plano e Finanças, conhecedor da real situação macro-económica do país, que luta para baixar o índice da inflação que neste momento situa-se nos 30%. As instituições de brettom woods exigem que o arquipélago reduza o índice para 15% antes do final do ano. Por isso o ministro rejeita a possibilidade da realização de eleições legislativas antecipadas. Seria segundo Raul Cravid, o pior cenário. «Acho que os homens são-tomenses serão razoáveis, e não partiremos para sacrifício mais uma vez deste povo.
Mas enfim os decisores terão a última palavra. O país neste momento não tem condições financeiras para esta acção», declarou o Ministro, contrariando assim a posição do Primeiro Ministro Patrice Trovoada que na imprensa nacional e estrangeira defendeu a realização imediata das eleições antecipadas.
Como se não bastasse, o Governo de gestão garante que desta vez vai cumprir a promessa feita de aumentar o preço dos combustíveis. «Já devia ter sido feita», precisou, para depois acrescentar que «não
aconteceu porque o governo precisava de alguns elementos com os quais precisava trabalhar. Já os obtivemos. O trabalho está feito e é uma acção que será feita quer connosco, quer com o próximo governo. Essa medida tem que ser tomada», concluiu.
São Tomé e Príncipe à abeira do colapso económico e financeiro.
Abel Veiga - TELA NON - 28/05/2008
NOTA:
S.Tomé e Príncipe é menor que a maior parte dos municípios europeus. Será assim tão difícil de governar?
Pobre povo...
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE