Eleutério Fenita
Correspondente da BBC, em Maputo
Foram activados os mecanismos de emergência para fazer face à situação provocada pela onda de violência xenófoba na África do Sul e que está a forçar o regresso ao país de milhares de moçambicanos.
Enquanto isso no seu primeiro pronunciamento público sobre a questão o Presidente da República Armando Guebuza reiterou que o seu governo continuará a apoiar quem deseje regressar.
Assim o ditaram os contornos cada vez mais graves que a onda de violência xenófoba continua a ganhar a mais de três mil quilómetros na África do Sul.
Guebuza disse que o governo está preocupado e a apoiar os que manifestaram vontade de regressar: “Encontrámos da parte das autoridades sul-africanas o apoio necessário”.
E alertou ainda que “há aqueles que aproveitam estes momentos para semear ódio e violência”.
As palavras de Guebuza foram proferidas no dia em que as autoridades decidiram reactivar o Centro Nacional Operativo de Emergência para responder à situação decorrente do regresso a em massa de imigrantes.
Ajuda planeada
A decisão foi tomada no pelo Conselho Coordenador de Gestão de Calamidades e visa dar mais ajudas, nomeadamente em forma de transporte, alimentação e acompanhamento médico.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi, explicou o que está a ser feito: “Estamos a situar a nossa intervenção a dois níveis: o imediato, de emergência e o seguinte, que é lidar com as consequências porque há cidadãos que querem ficar enquanto outros pretendem regressar”.
O titular da pasta dos estrangeiros disse ainda não haver certeza sobre o número de moçambicanos mortos, por entre notícias de que poderão ultrapassar as duas dezenas.
O que acontece é que apesar de haver pessoas, actualmente em abrigos temporários na África do Sul, que afirmam que pensam ter perdido um ou mais familiares, eles não o podem confirmar por receio de serem atacadas a caminho da morgue.
Enquanto isso milhares de Moçambicanos continuam a regressar ao país, havendo dados segundos os números já ultrapassam os dez mil desde segunda-feira
Indignação
Esta é uma questão que tem monopolizado a atenção e o espaço dos principais espaços noticiosos dos órgãos de comunicação social, a partir dos quais começam já a ser feitas algumas perguntas.
Na edição desta quinta-feira o diário Mediafax, questiona em editorial, por exemplo, o silêncio das proeminentes figuras sul-africanas que no passado, durante a era do apartheid, gozaram da hospitalidade dos Moçambicanos.
Dá o mote ao editorial o título ‘Vozes que consentem’, curiosamente um sentimento que a BBC sabe ser partilhado ao nível dos corredores do poder e que foi partilhado pelas pessoas interpeladas pela BBC aqui na capital Moçambicana.
“Tirar a vida a alguém é terrível. O Governo da África do Sul devia estar a fazer qualquer coisa para proteger os Moçambicanos e outros cidadãos de outros países”, defendeu um jovem.
“Os sul-africanos não deviam fazer isso. Para eles evoluírem é porque nós estamos lá a trabalhar”, afirmou uma cidadã, enquanto uma outra pessoa dizia que “A minha prima ligou a dizer que a situação está má e quer regressar”.
BBC - 22.05.2008