Comentário
África celebrou domingo passado o 45º aniversário da criação da Organização da Unidade Africana (OUA), antecessora da União Africana (UA). A República da África do Sul, o “paraíso” do continente (há quem diga que o Rwanda e o Darfur são os “infernos”) dizem, não podia ter dado melhor presente... Deu mostras do seu real nível, aquele por muito tempo sabiamente escondido: desprezo pelos restantes africanos.
É certo que no discurso politicamente correcto se afirma que o que se passa hoje na África do Sul relativamente aos cidadãos de outros países africanos nada tem a ver com o pensamento oficial; o certo é que oficialmente pouco ou nada se diz, muito menos se faz, para evitar aquelas vergonhosas ocorrências.
Salvo os discursos públicos de Desmond Tutu e de Winnie Mandela, os restantes políticos, empresários e representantes da chamada “sociedade civil” anda(ra)m ausentes nesta fase crítica de relacionamento com cidadãos de países vizinhos.
É verdade que temos o factor Zimbábuè nisto tudo, mas não apenas. A questão da partilha de recursos dentro da África do Sul é igualmente gritante. Não adianta tentar encontrar bodes espiatórios com fins eleitoralistas, por se saber que Abril de 2009 está a escassos meses...
Cadé o espírito alimentado há 45 anos? O anfitrião da cimeira de Addis-Abeba, o imperador etíope, Hailé Selassiè, desejou, na altura, que a convenção (OUA) durasse “mil anos!”, mas a verdade é que não durou sequer meio século, para além de se mudar de nome, numa alegada tentativa de se conseguir algum êxito na tarefa de elevar o nível de vida dos cidadãos dos Estados do continente negro, a verdade é que, como vaticinavam alguns colonos na hora da partida – “se comerão” – os africanos matam-se à brava e rejeitam-se e nem querem saber do vizinho.
Há quem diga que na realidade, Pretória (ou Tswane), farta de repatriar semanalmente uma média de 800 moçambicanos, com os seus próprios meios, moçambicanos esses que nem sequer saíam de Ressano Garcia, para horas volvidas regressarem à chamada “terra do rand”, terá encontrado a forma mais rápida, barata (ou mesmo a custo zero) e brutal de resolver não só o problema dos ilegais nas suas fronteiras, como também de todos os “forasteiros” que lá se encontra(va)m.
E viva a integração regional!
CORREIO DA MANHÃ - 26.05.2008