A REELEIÇÃO do Presidente Robert Mugabe para mais um mandato de cinco anos no Zimbabwe, provocou uma reacção mista, de rejeição e condenação, por um lado, e de dúvidas e expectativas, por outro. As Nações Unidas, por exemplo, pediram aos líderes africanos que tentem negociar uma solução para a crise no Zimbabwe. A vice-secretária-geral da ONU, a tanzaniana Asha-Rose Migiro, disse que este é o "momento da verdade" para os líderes da União Africana - organização formada por 53 nações. "Este é o maior desafio para a estabilidade regional no sul da África”, vincou.
Maputo, Terça-Feira, 1 de Julho de 2008:: Notícias
Por seu turno, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou o resultado das eleições presidenciais no Zimbabwe "ilegítimo" por não reflectir a vontade do povo e incitou as partes a negociarem uma solução para a violência e intimidação. O cenário obtido depois das eleições no Zimbabwe "não reflecte a verdadeira vontade do povo nem produz um resultado legítimo", disse o Secretário-Geral da ONU em comunicado divulgado domingo em Tóquio, onde Ban Ki-moon se encontra de visita.
O Conselho para a Paz e Segurança (CPS) da União Africana reuniu-se durante horas no domingo para debater a situação no Zimbabwe, mas não conseguiu pronunciar-se sobre a crise eleitoral que embaraça a organização. Após mais de três horas de reunião em Sharm el-Sheikh, o CPS - órgão encarregue da prevenção e gestão de conflitos - decidiu reenviar o “dossier” Zimbabwe à conferência de Chefes de Estado e de Governo que começou ontem.
Já na abertura da cimeira, o Presidente da União Africana, Jakaya Kikwete, apelou a comunidade internacional no sentido de trabalhar com a SADC na busca de uma solução para a crise em que está mergulhado o Zimbabwe.
Para o presidente da Comissão da União Africana, Jean Ping, África “deve assumir plenamente as suas responsabilidades” na crise no Zimbabwe.
A UA está a ser pressionada há uma semana por todas as partes a intervir na crise, nomeadamente pelos ocidentais, que consideraram a reeleição de Mugabe como uma “farsa” e pediram à organização para rejeitar qualquer legitimidade ao regime.
Os Estados Unidos apelaram à UA a declarar ilegítima a investidura de Mugabe, depois da sua vitória na segunda volta das eleições presidenciais boicotada pelo seu principal opositor, Morgan Tsvangirai. O apelo, contido numa declaração entregue à PANA em Lagos, foi lançado na véspera da cimeira da UA.
Mas o mais antigo Chefe de Estado africano, o Presidente do Gabão, demonstrou ontem o seu apoio a Robert Mugabe. "Ele fui eleito, ele prestou juramento, ele está aqui entre nós, sendo assim ele é presidente e não podemos pedir mais nada. Foram feitas eleições, e penso que ele ganhou", afirmou Omar Bongo, em declarações aos jornalistas à margem da cimeira da União Africana (UA), que decorre até hoje em Sharm el-Sheikh, Egipto.
Analistas acreditam que o Presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, é um mediador-chave na crise. Ele não critica Mugabe apesar de pressões do seu partido, o Congresso Nacional Africano. O Presidente da Zâmbia, Levy Mwanawasa, adoptou a postura mais firme, chamando o Zimbabwe de "constrangimento regional".
O Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, tido como um dos aliados mais próximos de Mugabe, pediu que o Presidente zimbabweano ponha fim à violência.
O Botswana convocou um emissário zimbabweano para reclamar da violência. O país vinha apoiando a oposição no Zimbabwe.
A Namíbia - que, a exemplo do que fez o líder zimbabweano, quer redistribuir terras de fazendeiros brancos para camponeses negros - não criticou a violência no país vizinho. O partido no poder na Tanzania historicamente apoia o partido ZANU-PF, de Mugabe. O seu MNE, contudo, condenou a violência.
O Presidente da RDCongo, Joseph Kabila, é aliado de Mugabe, que enviou tropas para ajudar o seu pai, Laurent Kabila, a enfrentar rebeldes.
O Malawi é visto como neutro. Mas quase três milhões de malawianos estão no Zimbabwe e vários foram atingidos pela reforma agrária.
Na Europa, as condenações ao pleito continuaram. O MNE da França, Bernard Kouchner, disse que a eleição no Zimbabwe é uma "farsa" que não pode ser aceite.
O Primeiro-Ministro britânico, Gordon Brown, apelou à UA para se pronunciar sem ambiguidades pela “mudança” no Zimbabwe e pela formação de um “novo governo”.
Canadá considera "ilegítimas" as eleições de sexta-feira no Zimbabwe e anunciou diversas novas sanções contra a elite política do país. "O uso sistemático de violência e intimidação representa uma grave violação dos Direitos Humanos e dos princípios democráticos", disse em comunicado o MNE canadiano, David Emerson.
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