A cidade de Nacala, na província de Nampula, voltou a viver momentos de tranquilidade, após dois dias de agitação iniciada quinta-feira, envolvendo mais de cem estivadores do porto, que reivindicam o pagamento de indemnizações e outros benefícios alegadamente gerados pela passagem da gestão da Terminal de Contentores dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) para o Corredor de Desenvolvimento do Norte (CDN). O processo enquadra-se no contexto das concessões pelo Governo ao sector privado dos sistemas ferro-portuários por um período acordado.
Maputo, Segunda-Feira, 23 de Junho de 2008:: Notícias
Chale Ossufo, representante do Estado na autarquia de Nacala, disse ontem à nossa Reportagem que a manifestação dos estivadores foi desmobilizada no sábado, após início das negociações de manhã, envolvendo membros dos estivadores, dos CFM e do CDN, além do Sindicato local dos Trabalhadores dos Portos e Caminhos de Ferro, desconhecendo-se contudo o texto do acordo alcançado pelas partes.
Ossufo avançou que não existe espaço para o pagamento de indemnizações, pois os estivadores nunca fizeram parte do quadro efectivo dos CFM e muito menos da Terminal de Contentores.
Na última sexta-feira, a cidade de Nacala viveu momentos de agitação na sequência de uma manifestação iniciada no dia anterior de forma pacífica, protagonizada por um grupo de mais de cem estivadores do porto, que se reuniram num campo de futebol localizado no bairro de Ontupaia, onde procuravam mais aderência da população, e ameaçavam paralisar o manuseamento de carga na terminal de contentores para pressionar a direcção a atender as suas reivindicações.
Nem a intervenção das forças da lei e ordem demoveu os manifestantes, que marcharam pela avenida principal desde a cidade alta até à baixa em direcção ao Porto de Nacala. A movimentações foi, entretanto, travada, com a promessa do grupo de estivadores de serem recebidos para negociações com o patronato no dia seguinte.
Soubemos, entretanto, que as forças da lei e ordem em Nacala estão no encalço de um indivíduo que se presume seja o cabecilha da greve, o qual em anos anteriores, quando estivador, viu o seu acesso às instalações ferro-portuárias interdito, pelo seu envolvimento repetido em actos de roubo de mercadorias dos potenciais utilizadores do porto, através do arrombamento de contentores, actos que causaram prejuízos avultados aos CFM, na altura gestor do empreendimento.
Depois da medida de interdição do acesso ao porto, o referido indivíduo ter-se-ia introduzido clandestinamente num navio de pavilhão das Honduras, tendo rumado posteriormente para a Itália. Já num dos portos daquele país europeu, acabaria por ser descoberto no interior de um dos porões, tendo sido entregue pela Polícia Marítima italiana à representação diplomática moçambicana, que tratou de embarcá-lo num outro navio de volta a Nacala. Só que tal navio ia para ao porto de Durban, África do Sul, de onde o indivíduo desapareceu para parte incerta enquanto decorriam démarches para a sua evacuação via terrestre para Maputo.
Pessoas próximas da sua família disseram que este moçambicano viveu cerca de três anos na África do Sul, desconhecendo-se as razões que o levaram a abandonar aquele país e retornar à cidade de Nacala, e não se sabendo exactamente qual é o seu endereço.