As Nações Unidas pediram aos líderes africanos reunidos na cimeira da União Africana em Sharm el-Sheikh, no Egito, que tentem negociar uma solução para a crise no Zimbabue.
A vice-secretária-geral das Nações Unidas, a tanzaniana Asha-Rose Migiro, disse que este é o "momento da verdade" para os líderes da União Africana, organização formada por 53 nações.
"Este é o maior desafio para a estabilidade regional no sul da África."
O presidente do Zimbabue, Robert Mugabe, participa da reunião no Egipto.
Mugabe foi empossado no domingo depois de uma vitória que observadores dizem ter sido minada por violência e intimidação. A comissão eleitoral do país disse que ele recebeu 85,5% dos votos válidos.
Em nota oficial, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, em visita a Tóquio, disse que "as condições não estavam estabelecidas para eleições livres e justas e observadores confirmaram que este foi um processo profundamente fraudulento".
"O resultado não reflecte a vontade genuína do povo zimbabueano."
A África do Sul pediu a Mugabe que converse com a oposição para formar um governo de transição.
Robert Mugabe foi o único candidato a disputar a segunda volta depois do seu adversário, o líder do Movimento para a Mudança Democrática, MDC, da oposição, Morgan Tsvangirai, se ter retirada da corrida.
'Paz'
No seu discurso de boas vindas, o presidente do Egipto, Hosni Mubarak, disse que estimular a paz e a segurança é "essencial para resolver disputas e conflitos no continente".
A União Africana decidiu não aceitar líderes que não foram eleitos democraticamente, mas observadores afirmam que é pouco provável que adoptem uma postura dura contra Mugabe, tão depressa.
Um esboço de resolução formulado pelos ministros africanos dos Negócios Estrangeiros antes da cimeira não criticou as eleições, nem Mugabe, mas condenou a violência em termos gerais e apelou por diálogo.
Observadores independentes criticaram a votação. Monitores da própria União Africana disseram esta segunda-feira que o pleito não atingiu os padrões da organização para eleições democráticas.
Analistas acreditam que o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, é um mediador-chave na crise. Ele não criticou Robert Mugabe apesar de pressões de seu partido, o Congresso Nacional Africano, ANC.
A posição dos vizinhos
O presidente da Zambia, Levy Mwanawasa, adotou a postura mais firme, chamando o Zimbabue de "constrangimento regional".
O presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, tido como um dos aliados mais próximos de Mugabe, pediu que o presidente zimbabueano ponha fim à violência.
O Botswana convocou um emissário zimbabueano para protestar contra a violência.
A Namíbia, aliada de Mugabe - que, a exemplo do que fez o líder zimbabueano, quer redistribuir terras de fazendeiros brancos a camponeses negros - não criticou a violência no país vizinho.
Moçambique recebeu alguns agricultores brancos forçados a deixar o Zimbabue quando as suas propriedades foram ocupadas, mas não tem tomado nenhuma posição abertamente contra Mugabe.
O partido no poder na Tanzania historicamente apoia o partido Zanu-PF, de Mugabe, mas o seu ministro do Exterior, condenou a violência.
O presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, é aliado de Mugabe, tendo enviado tropas para ajudar o seu pai, Laurent Kabila, que enfrentou rebeldes.
O Malawi é visto como neutro. Mas 3 milhões de malawianos estão no Zimbabue e várias foram prejudicadas pela invasão das priopriedades agrícolas.
Europa
Na Europa, as condenações ao pleito continuaram. O ministro do Exterior da França, Bernard Koucher, disse que a eleição no Zimbabue é uma "farsa" que não pode ser aceite.
"Eu espero que a União Africana e seus líderes deixem absolutamente claro que tem que haver mudança e um novo governo tem que ser organizado", afirmou o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Gordon Brown.
BBC - 30.06.2008