O ministro da Agricultura de Moçambique, Soares Nhaca, disse hoje que o Governo está aberto a mais investimentos privados na área dos biocombustíveis, "desde que sejam implantados em áreas marginais para não prejudicar a produção alimentar".
Questionado pela Agência Lusa sobre o investimento anunciado pelo magnata de Macau Stanley Ho relativo à produção de biocombustíveis, o governante moçambicano reiterou que o executivo moçambicano "está pronto para receber investimentos nesse ramo".
"Eu não estou a par [da intenção da Geocapital], esse projecto não deu entrada, nem como simples manifestação de interesse (…) mas esses projectos devem ser destinados para terras marginais, para não conflituarem com a produção alimentar, e esse é o requisito fundamental", enfatizou o titular do pelouro da Agricultura em Moçambique, que falava à margem de um simpósio sobre a segurança alimentar que começou quarta-feira em Maputo.
Soares Nhaca realçou que Moçambique tem mais terras marginais que aráveis, tendo por isso condições para acolher investimentos na produção de biocombustíveis sem afectar a produção alimentar.
No início deste mês, a Geocapital anunciou que pretende investir até 40 mil milhões de dólares nos próximos dez anos na produção de biocombustível em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, com uma produção que deverá atingir a capacidade máxima de 14 milhões de toneladas anuais.
Na última segunda feira, um banco associado à Geocapital, a MOZABANCO abriu em Maputo, marcando o arranque dos investimentos de Stanley Ho em Moçambique.
Em 2007, uma firma designada PROCANA, que resulta de uma parceria entre empresários moçambicanos e estrangeiros, anunciou investimentos superiores a 300 milhões de euros para o cultivo de cana destinada à produção de biocombustíveis no distrito de Massingir, sul de Moçambique, levantando logo protestos de vários quadrantes da sociedade civil do país, devido a supostas implicações negativas para o rio Limpopo, a principal fonte de água na área, e para a produção alimentar na mesma zona, uma das mais produtivas do país.
No início deste ano, a portuguesa GALP também manifestou o interesse de apostar na produção da jatropha, uma planta com potencial para a geração do biocombustível, prevendo investimentos de cerca de três milhões de euros nesse esforço.
O director nacional de Energias Novas e Renováveis, do Ministério da Energia moçambicano, reiterou à Lusa que o país está "aberto a todos os investidores" e que o governo irá "analisar a proposta concreta" da Geocapital, quando ela for apresentada.
António Osvaldo Saíde, que falava à margem do seminário sobre a "Estratégia Nacional de Biocombustíveis em Moçambique", que teve início quarta-feira em Maputo, acrescentou que o Governo moçambicano terá igualmente de avaliar a opção da empresa, com sede em Macau, pela cultura da jatropha, uma planta com vantagens, nomeadamente por "crescer com facilidade, mesmo em terras pouco férteis", mas cujos impactos no caso moçambicano não foram ainda avaliados.
Por seu lado, Edward Hoyt, especialista em biocombustíveis da empresa norte-americana Econergy, admitiu existir uma "forte preocupação com o potencial conflito entre energia e alimentos" face a projectos como o apresentado pela Geocapital, aconselhando o Governo a "tomar em conta a situação das terras que vão ser aproveitadas" antes da aprovação.
O vice-presidente da Econergy referiu, por outro lado, que este "não é o único projecto a pretender produzir jatropha em Moçambique", uma importante variedade na produção de biodiesel que já é explorada no país.
A jatropha, uma planta capaz de vingar mesmo em condições adversas do solo, já é usada para produzir biodiesel em países como a Índia, a Indonésia e as Filipinas.
A planta possui quatro vezes mais capacidade por hectare do que a soja e 10 vezes mais que o milho para gerar combustível.
A partir de um hectare de jatropha é possível produzir 1.892 litros de combustível.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 21.06.2008