O Presidente zimbabweano prometeu, em vários comícios, que, caso vença, permitirá que o `povo tome de assalto as empresas dos brancos´, disse Nelson Chirudzi, residente perto de Harare e que se encontra em Joanesburgo.
Em declarações à Agência Lusa, este trabalhador da hotelaria zimbabweano garantiu que Robert Mugabe fez esta promessa em vários comícios na campanha para a segunda volta das eleições presidenciais, hoje a decorrer, sempre na língua local `shona´, mas nunca a repetiu quando se expressava em inglês.
A Lusa confirmou, por telefone, esta declaração com mais três zimbabweanos, um dos quais fala fluentemente `shona´, que ainda residem em Harare e pediram o anonimato.
`Para muita gente poderá parecer apenas mais uma promessa eleitoral, mas a verdade é que a violenta campanha de nacionalização das propriedades agrícolas dos brancos que começou em 2000 foi precedida de declarações semelhantes do Presidente, as quais, na altura, não foram levadas muito a sério´, disse um empresário zimbabweano que reside na capital e que pediu para não ser identificado.
Em contacto telefónico a partir de Joanesburgo, um empresário português referiu que os zimbabweanos andam `perfeitamente aterrorizados´ com a campanha de intimidação e violência lançada pela ZANU-PF e pelas forças de segurança, sendo forçados a votar mesmo sabendo que o acto eleitoral é `uma gigantesca fraude´.
`Eles sabem que a polícia e as milícias da ZANU-PF irão estar atentos àqueles que não ostentam o dedo azul (com a tinta aplicada nas mesas de voto) e os que não derem provas de ter votado poderão ser agredidos com violência´, explicou.
A fonte da Lusa disse que muitos zimbabweanos adquiriram uma tinta azul, com efeito semelhante àquela que é utilizada pela comissão eleitoral, na qual mergulham os dedos, para que não sejam alvo de perseguições mesmo que não votem na segunda volta das presidenciais.
O embaixador português no Zimbabwe, João da Câmara, está a visitar desde as primeiras horas da manhã várias assembleias de voto de Harare na companhia de diplomatas de vários países europeus, tendo um membro da embaixada portuguesa confirmado à Lusa a ausência durante toda a manhã de incidentes dignos de registo na capital.
Com o agudizar da crise política aumentam também os receios de que a violência estale nas maiores cidades do país.
De acordo com várias fontes, os assaltos - até há pouco tempo uma ocorrência rara na capital - estão a suceder-se a um ritmo preocupante.
Um empresário que perdeu recentemente uma significativa soma em dinheiro e vários bens durante um assalto disse à Lusa que `é errado pensar que as coisas já não podem ficar piores do que estão hoje´.
`A situação pode de facto ficar fora de controlo se o povo, em desespero, levar a sério as afirmações do Presidente, e começar a atacar indiscriminadamente as empresas e os seus proprietários´, afirmou, pedindo para não ser identificado.
JN - 27.06.2008