FRELIMO apela à “confiança nas instituições de soberania”
O partido FRELIMO, aliado da ZANU-FP no poder no Zimbábuè, apelou à “confiança nas instituições de soberania” do regime ditatorial de Robert Mugabe, acrescentando que está a seguir “muito de perto” a
situação no país vizinho.
Em conferência de imprensa realizada esta segundafeira em Maputo, o porta-voz do partido FRELIMO, Edson
Macuácua, instou a comunidade internacional a “respeitar a soberania do povo zimbabueano”, numa aparente referência à crescente pressão sobre o Governo do Zimbábuè para acabar com a violência que se tem registado naquele país, a quatro dias da segunda volta das eleições presidenciais.
Na sequência da onda de violência que afecta o país, o líder do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), Morgan Tsvangirai, anunciou domingo a sua retirada do escrutínio, abrindo caminho para a vitória de Robert Mugabe, num processo criticado por vários governos ocidentais.
Queixas da oposição
O MDC garante que 66 dos seus apoiantes foram mortos, 200 estão desaparecidos, três mil hospitalizados e 25 mil estão deslocados devido à campanha de intimidação e de retaliação lançada pelo regime, depois da derrota nas eleições gerais de 29 de Março.
No entanto, o presidente da Comissão Eleitoral do Zimbábuè afirmou segunda-feira que o dirigente da oposição ainda é candidato ao escrutínio, dado a comissão não ter recebido qualquer documento que oficializa a desistência ao escrutínio.
George Chiweshe frisou que a comissão não recebeu qualquer carta de Morgan Tsvangirai a desistir das presidenciais e que o escrutínio prossegue como planeado, na sexta-feira.
A FRELIMO mantém com a União Nacional Africana do Zimbábuè - Frente Patriótica (ZANU-FP), partido de Robert Mugabe, no poder desde a independência do Zimbábuè, em 1980, fortes laços de solidariedade.
Ligações
Aliás, foram, em parte, as tropas de Mugabe que evitaram a derrocada do regime da FRELIMO quando em meados da década de 80 do século passado sofria uma das mais severas pressões militares da guerrilha da RENAMO, durante os penosos 16 anos da guerra que opôs activistas desta organização com as tropas do Governo de Maputo.
Publica e oficialmente se dizia que as tropas zimbabueanas protegiam o para si vital “Corredor da Beira”, um complexo que inclui uma rodovia, ferrovia e oleoduto que parte da capital de Sofala (Moçambique) até Mutare (Zimbábuè).
Será, na avaliação de alguns observadores, esta aliança que faz com que Maputo seja cauteloso, senão mesmo conivente perante a brutalidade a que Robert Mugabe submete a maioria dos zimbabueanos.
Ainda na semana passada, o Presidente moçambicano, Armando Guebuza, recebeu durante mais de uma hora uma delegação enviada de Harare pelo seu homólogo zimbabueano, liderada pelo ministro da Habitação Rural zimbabueano, Emerson Mnangagwa.
“Esta é uma visita normal de uma delegação da ZANUPF ao presidente da FRELIMO, o nosso irmão Presidente Guebuza”, comentou, na altura, o governante zimbabueano.
Mugabe e parte da liderança da ZANU-FP dirigiram a luta de guerrilha contra o regime rebelde (em relação à coroa britânica) e de minoria branca liderado por Ian Smith (já finado) a partir de Moçambique, situação que levou o país a ser alvo de bombardeamentos da força aérea do então chamado “tabaqueiro de Salisbúria”.
CORREIO DA MANHÃ - 24.06.2008