UM esforço notável para evitar que a complicada e crítica situação do Zimbabwe torne refém os demais problemas que preocupam o Continente Africano caracterizou os últimos três dias de diferentes encontros preparatórios da décima primeira cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana que hoje se inicia em Sharm El Sheikh, no Egipto, sob o lema: “Concretizando os Objectivos do Milénio para Água e Saneamento”, na qual toma igualmente parte o Presidente Armando Guebuza, que ontem ao final da tarde chegou ao local do encontro.
Maputo, Segunda-Feira, 30 de Junho de 2008:: Notícias
Na reunião do Conselho Executivo da UA, realizada sexta-feira, Jean Ping, presidente da Comissão da União Africana, falando sobre democracia, eleições, governação e direitos do Homem, considerou que o desafio africano reside na organização, realização e gestão dos resultados eleitorais. Ping disse parecer-lhe importante que se reflicta sobre o assunto para que logo depois das eleições os atrasos na publicação dos resultados, dos quais as causas podem ser objectivas, não criem ocasiões de derrapagens. Segundo ele, o desafio maior com o qual o continente se confronta é o de assegurar que as eleições não desemboquem mais em distúrbios, contestações violentas e muitas vezes sangrentas.
Quanto à questão da água e saneamento, África corre o risco de não atingir os Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, segundo alertou Rhoda Tumusime, comissária da UA encarregue da Economia Rural e Agricultura, citada pela agência de informação PANA. Esta matéria está integrada nos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, subscritos pelos países africanos em declaração conjunta das Nações Unidas de 2000, que fixou oito metas específicas a serem atingidas até 2015.
Tumusime projecta que apenas 41 por cento da população africana terá acesso ao saneamento e 68 por cento a água potável em 2015 se as tendências forem mantidas. Há consenso, no entanto, de que houve esforços significativos que permitiram fazer progredir consideravelmente o número de pessoas que têm acesso à água potável no continente.
Sobre o assunto, Felício Zacarias, Ministro das Obras Publicas e Habitação, disse à Imprensa moçambicana em Sharm El Sheikh que as projecções do nosso Governo indicam que, apesar dos vários constrangimentos, ainda é possível Moçambique cumprir os objectivos do milénio nesta área. Felício Zacarias disse que o Executivo está a trabalhar com vista a alcançar os ODM’s e prevê uma cobertura de 70 por cento em termos de água e 60 por cento em saneamento até 2015. “O que nós prevemos para o próximo ano, e tudo indica que nos vamos cumprir, é uma cobertura de 55 por cento em água rural e 60 por cento em agua urbana, subir a taxa de saneamento rural de 39 para 40 e no saneamento urbano de 47 para 60 por cento. Há todo um trabalho no sentido de cumprir as metas traçadas”, acrescentou.
Não obstante estas taxas, o optimismo de Felício Zacarias assenta nos resultados positivos que estão a ser obtidos actualmente, sobretudo nas províncias onde há alguns anos havia grandes dificuldades, nomeadamente na Zambézia e Nampula. “Estamos a crer que com o esforço que o Governo está a fazer nestas duas províncias em parceria com os dos projectos do Banco Mundial, o Millennium Corporation (MCC), aliado à reabilitação das infra-estruturas diversas, tornaremos sustentável a questão do acesso à água. Estas medidas é que nos permitirão atingir os ODM’s”, disse o ministro.
Espera-se que uma declaração sobre o assunto seja emitida amanhã, no final da cimeira.
Entretanto, particularmente, o assunto água tem constituído um ponto de debates quase que de natureza política em comissões específicas, embora não transpareça abertamente para a Imprensa, segundo revelou uma fonte fidedigna ao “Notícias”. Sustenta a mesma fonte de informação que há consciência de que as previsões de escassez deste recurso hídrico até 2050 tem levantado o espectro de vir a tornar-se num potencial foco de conflitos entre Estados Africanos que partilhem as mesmas bacias hidrográficas.
Rogério Sitoe, Em Sharm El Sheikh