Morgan Tsvangirai admite participar na segunda volta das eleições presidenciais zimbabueanas, caso terminem os ataques aos apoiantes do MDC.
“Estamos preparados para negociar com a ZANU-FP”, afirmou o líder do partido da oposição no Zimbabué.
“Mas claro que é importante que alguns princípios sejam aceites antes de começarem as negociações.”
No entanto, hoje, a polícia de Harare, entrou na sede do MDC na capital zimbabueana, e levaram em autocarros apoiantes da oposição que se encontravam aí refugiados.
A maior parte destas pessoas eram mulheres e crianças. Segundo um porta-voz do MDC, estavam refugiadas, fugidos da violência nas zonas rurais, cerca de sessenta pessoas.
Morgan Tsvangirai passou a noite na embaixada da Holanda em Harare.
O líder da oposição ainda não pediu asilo político, segundo o governo holandês. Apenas procurou refúgio na embaixada por temer pela sua segurança.
Os holandeses dizem que Tsavngirai pode ficar na embaixada, usufruindo da protecção diplomática durante o tempo que for necessário.
Desilusão
Foi ontem que Morgan Tsvangirai anunciou que se iria retirar das eleições.
Já morreram mais de oitenta activistas do MDC. E o partido da oposição tem sido impedido de fazer comícios e campanha eleitoral.
Morgan Tsvangirai declarou que não existem condições para que as eleições sejam justas e livres, e portanto, não iria participar na segunda volta.
A decisão de Morgan Tsvangirai foi recebida com desilusão na cidade de Bulawayo, capital da região mais forte do MDC, Matabeleland, segundo o jornalista Thamba Nkosi:
"Nos centros urbanos como Bulawayo, as pessoas estão ansiosas por ir até ao fim”, contou o jornalista zimbabueano.
“Mas as pessoas que estavam a pedir-lhe [a Morgan Tsvangirai] para cancelar a segunda volta são as das zonas rurais. Há dois dias falei com pessoas do sul de Matabeleland que estavam a dizer que Tsvangirai tinha que parar com isto [as eleições], porque eles estão cansados da violência e dizem que os ataques dos veteranos de guerra estava a afectar a vida nas vilas. As suas vidas agora são um inferno."
Reacção internacional
Tsvangirai apelou ainda à ajuda internacional para impedir o que classificou de genocídio.
As reacções ao anúncio de Tsvangirai chegaram depressa. Os Estados Unidos e o Reino Unido condenaram Robert Mugabe e disseram estar preparados para levar o Zimbabué ao conselho de segurança da ONU.
O governo dos Estados Unidos afirmou que Mugabe estava a manter um regime ilegal e também o Reino Unido considerou Mugabe um líder ilegítimo.
Quanto à reacção dos vizinhos do zimbabue – Thabo Mbeki, presidente sul-africano e mediador da crise, continua a apelar às negociações.
Mbeki, no entanto, já foi criticado pelo Presidente da Zâmbia, também Presidente da SADC. Levy Mwanawasa disse que não estava a conseguir falar com o presidente sul-africano para discutir a crise.
Mwanasa foi claro nas suas declarações: “A segunda volta das eleições presidenciais no zimbabué tem que ser adiada para outra data. Isto é ainda mais necessário, agora que um dos candidatos está a retirar-se”.
Reunião em Luanda
Jean Ping, Presidente da União Africana, disse estar a consultar outros líderes africanos para discutirem possíveis soluções.
Os líderes da SADC reuniam-se hoje em Luanda, capital de Angola.
O ministro da justiça do Zimbabué, Patrick Chinamasa, afirmou que a desistência de Morgan Tsvangirai não é ainda oficial.
Tudo decorrerá como previsto, com a segunda volta das eleições presidenciais a realizar-se na sexta-feira, dia 27 de Junho, dizem as autoridades zimbabueanas.
BBC - 23.06.2008