Isaac Bigio*/Especial para Análise Global/ BR Press
Os imigrantes tiveram um papel chave no desenvolvimento da economia da União Européia e muitos fazem trabalhos que os locais não querem fazer. No citado bloco vivem mais de 8 milhões de “sem papéis”. Uma via para solucionar este problema é regularizar a situação de todos (como acaba de fazer o Chile e fez anteriormente a Espanha), com o que se desestruturariam as máfias, diminuiria a criminalidade e se recolheriam mais impostos.
Outra via é querer expulsar a todos. Para isso, a UE deve investir bilhões de euros em mais centros de detenções, passagens e atividades policiais e, o mais grave, restringindo os direitos humanos, alentando o racismo e criando um submundo de imigrantes clandestinos.
Endurecimento
No dia 18 de junho passado, o Parlamento Europeu optou por seguir o segundo caminho. Com as novas leis, que deverão entrar em vigor em 2010, os imigrantes ilegais serão criminalizados. Poderão ser detidos por até 18 meses e se deportar menores, ainda que nascidos em alguns países europeus, sem a companhia de parentes.
Há aí uma grande contradição, com a forma pela qual a América Latina sempre abriu suas portas aos europeus que fugiam de crises, fomes, guerras e perseguições, e também com o exemplo “democrático” que a UE quer dar ao mundo, com sua proposta de estabelecer o livre comércio com os Andes (no qual um dos requisitos fundamentais é o livre trânsito).
Reflexos
A UE, que tanto lutou contra “limpezas étnicas”, pretende travar uma espécie dessas guerras contra os ilegais, que somam hoje, em população, tanto ou mais que a metade da de seus 27 países membros. A América Latina sofrerá uma hecatombe, pois perderá centenas de milhões de euros em remessas, e terá que administrar o repatriamento dos expulsos, o que afetará o instável mercado de trabalho desses paises.
Quando da V Reunião UE-ALC, em Lima, os latinos de Londres encaminharam uma carta na qual apresentavam estas questões. Durante o evento, entretanto, os governos latino-americanos não deram maior importância ao perigo que se anunciava.
Hoje, no entanto, há intensos protestos nas altas esferas. É claro que se pode e se deve continuar pressionando, ainda que a chave para torpedear tais medidas seja conseguir o apoio dos próprios povos europeus.
(*) O analista internacional e ex-professor da London School of Economics (LSE) Isaac Bigio é especializado em América Latina e assina uma coluna diária no jornal peruano Correo. Tradução: Angélica Resende/BR Press.
Isaac Bigio - 24.06.2008