MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá meu caro Luís
Como vai essa vida? Do meu lado está tudo bem, felizmente.
Queria hoje falar-te de uma coisa que me vem incomodando desde há bastante tempo.
É esta história de se governar por chavões sem nunca esses chavões serem traduzidos em coisas práticas.
Lembras-te, meu amigo, que o mandato do actual Presidente começou com grandes declarações de combate ao “deixa-andar” e à corrupção?
Não se ouvia outra coisa por todo o lado.
Mas em que é que isso deu, vários anos passados?
Em nada, praticamente. O “deixa-andar” continua de boa saúde e a corrupção parece estar mais forte do que nunca. A única mudança foi que se deixou de falar nesses assuntos.
Seguiu-se a palavra de ordem do combate à pobreza absoluta. E aqui já não posso dizer que nada se fez. Penso que a ideia da atribuição de fundos aos distritos para o combate à fome é uma coisa muito positiva no sentido do tal combate à pobreza absoluta. Mas por aí me fico. Não estou a ver mais nada de particularmente significativo nesse sentido.
Simultaneamente apareceu o chavão sobre a “revolução verde”. Agora não há discurso em que se não fale da tal revolução.
Poderia parecer que com tantos discursos a falar dela já todos nós soubéssemos em que consiste a dita revolução.
Errado.
Fala-se permanentemente da “revolução verde”, mas ninguém nos diz em que é que ela consiste, o que está a ser planificado, o que já está a ser feito.
Temos assistido a “revoluções verdes” em outros países. Normalmente isso traduz-se na utilização de sementes melhoradas, adubos e pesticidas e uma agricultura mecanizada. Tudo isto apoiado por créditos bonificados e apoio técnico aos agricultores.
Isto para não falar nos outros sectores intimamente ligados como é o caso da comercialização agrícola e das agro-indústrias.
Ora a verdade é que eu só ouço repetir a expressão “ revolução verde”, mas não ouço mais nada sobre todos esses aspectos que deveriam fazer parte da tal revolução.
Há dias ouvi, na rádio, o Chefe de Estado a falar num comício durante a sua presidência aberta. Dizia ele que, com a “revolução verde”, a produção por hectare podia multiplicar-se por 2, por 3, por 5 ou ainda mais.
Só não disse, ou a rádio não transmitiu, que passos concretos iriam ser dados para atingir esses objectivos.
Eu sei que há religiões em que se acredita que a repetição exaustiva de determinadas frases pode ter os efeitos práticos pretendidos. Mas, como sabes, eu não sou religioso e, portanto, acredito mais em actos práticos e concretos para se conseguir atingir os nossos objectivos.
E, para isso, era bom que nos fosse explicado, mais em pormenor, o que está já planificado e o que se está já a fazer para pôr de pé a tal “revolução verde”.
Se isso não for feito, mais dia menos dia se vai arrumar esta palavra de ordem na mesma gaveta onde dormem as lutas contra o “deixa-andar” e a corrupção e, muito provavelmente, se vai descobrir uma outra qualquer para utilizar nos comícios e discursos durante um tempo até ser substituída pela seguinte.
E, está bem de ver, não me parece que isto leve a lado nenhum.
Um abraço para ti do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ - 31.07.2008