KHOMALA!
Por: Vasco Fenita
A celebração do octogésimo aniversário natalício do decano dos advogados moçambicanos, Dr. Domingos António Mascarenhas Arouca, promovida na pretérita semana, na capital do país, por um grupo de concidadãos amigos constituiu uma homenagem absolutamente merecida.
Pois que, para além dos predicados de multifacetada natureza que o exornam, o Dr. Domingos Arouca destacou-se, desde cedo, como um nacionalista na acepção do termo, de convicções firmes.
Que, apesar de encarcerado e torturado impiedosamente nas masmorras da hedionda PIDE, manteve-se irredutível aos seus desígnios em prol da libertação do país das garras aduncas do invasor.
A perseguição tenaz movida pela referida polícia política do regime colonial culminaria com a prisão do Dr. Domingos Arouca em meados dos anos sessenta, incriminado de actividades subversivas.
Condenado a oito anos de prisão efectiva, com metade da pena cumprida em Moçambique e outra metade em Portugal, Arouca só viria a ser libertado em 1973, a título condicional e autorizado a regressar a Moçambique, e, a seu pedido, com residência permanente na cidade de Inhambane, seu torrão natal. Onde,
aliás, nasceu a 7 de Julho de 1928.
E foi, ainda, em meados da década sessenta, mas antes da sua detenção, quando ele exercia função de director editorial do Jornal “Brado Africano”, tive o privilégio de ser nomeado, na Ilha de Moçambique, correspondente-delegado daquele hebdomadário de incontestável carisma e repercussão sócio-política.
Recordo-me que o ilustre causídico desempenhava também, na altura, o cargo de Presidente da direcção do Centro Associativo dos Negros de Moçambique, que, sub-repticamente, assumia-se como forja através da qual foi possível despertar a consciência nacionalista de muitos jovens que viriam a entrincheirar-se em retaguardas clandestinas no país ou ingressando na frente do combate armado que ensaiava as primeiras investidas a partir da vizinha Tanzânia.
Converti-me, consequentemente,em profundo admirador do Dr. Domingos Arouca. Não apenas devido à frontalidade e ao destemor com que se esgrimia contra as injustiças sociais. Mas, igualmente, ao aperceber-me do seu espírito de perseverança e abnegação, que, de modesto enfermeiro indígena, se catapultou abnegadamente, degrau a degrau, até à concretização da sua aspiração superlativa, graduando-se em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa.
Na sua mensagem alusiva à efeméride, o Presidente da República, Armando Guebuza, realçou o facto de Domingos Arouca nunca se ter deixado alienar ou aliciar. E devido a essa sua postura inamovível, ele converter-se-ia em “personna non grata” para o ditador António de Oliveira Salazar. Além de ter declinado um convite do Presidente Samora Machel para assumir a função de Ministro da Justiça, por, alegadamente,
não se identificar com a doutrina do marxismo-leninismo então em vigor.
Em suma: o Dr. Domingos Arouca é um autêntico herói nacional vivo, cujo exemplo dignificante deveria servir de inspiração às novas gerações.
WAMPHULA FAX - 29.07.2008