O antigo presidente da República de Cabo Verde, António Mascarenhas Monteiro, criticou a forma como a cimeira da União Africana está a lidar com o presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe.
Em entrevista à BBC, Mascarenhas Monteiro começou por dizer que "não espera muito" da cimeira que decorre na estância de Sharm al Shikh, no Egipto.
"Os países africanos têm sido muito tolerantes em relação ao presidente Mugabe", explicou.
"Mesmo neste momento", prosseguiu, "não se vislumbra uma decisão firme da parte da União Africana ou dos estados membros, algo que me preocupa de sobremaneira".
"Um homem que utiliza a violência para impedir a participação do seu opositor nas eleições, acho que devia ser punido e punido severamente", sublinhou.
Farsa eleitoral
O antigo chefe de estado cabo-verdiano defendeu que "a própria UA devia recusar a participação dele (na cimeira), porque tratou-se de uma grande fraude, de uma grande farsa eleitoral que não convence ninguém. Ee não tem legitimidade para representar o povo do Zimbabwé".
Mascarenhas Monteiro, que foi o primeiro presidente eleito de Cabo Verde, após o fim do regime de partido único, e que cumpriu dois mandatos de cinco anos com maiorias esmagadoras, pôs em dúvida as condições para o diálogo no Zimbabwé.
"As partes só dialogam quando estão em pé de igualdade, o que não é o caso do Zimbabwé, onde o líder da oposição e os seus apoiantes têm sido vítimas de toda a espécie de agressão.
Inclusivamente, sublinhou, "muitos militantes foram vítimas de ataques mortais; o Tsvangirai já foi preso várias vezes, já foi brutalizado".
Afirmando que "não vê condições para que haja negociação", António Mascarenhas Monteiro disse que o "único diálogo possível para mim é o diálogo tendente a estabelecer as bases para a organização de novas eleições. Eleições livres, justas e transparentes", concluiu.
BBC - 01.07.2008