A talhe de foice
Por Machado da Graça
O novo ideólogo da Frelimo, Edson Macuácua, veio a público, através do jornal Zambeze, definir o seu partido e negar o que foi afirmado, aqui no Savana, por Jorge Rebelo.
E, das suas declarações, ficámos a saber coisas muito interessantes.
Uma delas, por exemplo, foi de que é esta divergência de ideais que contribuiram para o fortalecimento do nosso glorioso partido, desde a sua fundação, em Junho de 1962.
Fomos, portanto, informados que todas aquelas coisas que nos andaram a ensinar sobre a luta entre a linha correcta e a linha incorrecta, que levou mesmo ao assassinato de Eduardo Mondlane, eram apenas balelas e, de facto, a divergência de ideais foi sempre fortalecedora.
Urias Simango, Lázaro Kavandame, Joana Simeão e muitos outros terão tido o azar de terem morrido sem se aperceberem dessa riqueza da divergência ideológica, agora proclamada.
Mesmo aquela coisa de, no Terceiro Congresso, a Frelimo ter adoptado uma ideologia marxista-leninista deve ter sido apenas para fingir, se acreditarmos no ideólogo Macuácua. Só é pena ele ser demasiado novo nessa altura e não ter podido avaliar, na própria pele, a abertura que havia para ideais divergentes nessa época.
Mais adiante, o teórico frelimista, faz ressuscitar uma fórmula que há muito eu julgava morta e enterrada. Diz ele que a Frelimo, diferentemente de outros partidos no mundo, representa o povo moçambicano no seu todo. A Frelimo não representa interesses dos trabalhadores (proletariado), dos intelectuais ou do patronato.
E, mais uma vez, fico profundamente surpreendido. Afinal não era verdade que a Frelimo era o partido de vanguarda da aliança operario-camponesa? Terei andado durante anos a sonhar com isso? Só pode...
Mas alguma coisa me faz ainda estranhar. Será engano meu ou a Frelimo está, até hoje, filiada na Internacional Socialista? E o que é que isto quererá dizer? Nada?!
Já a frase sobre a Frelimo representar o povo moçambicano no seu todo me parece mais polémica. Será que ela representa também os militantes da Renamo, do PDD, do PIMO, do Monamo, sei lá de quantos mais partidos? E eles concordam?
Representará mesmo aqueles que, como eu próprio, não são militantes nem simpatizantes de nenhum partido?
Com que direito é que o ideólogo Macuácua afirma uma coisa destas? Quem lhe passou procuração para me representar? Eu não fui, de certeza.
Principalmente quando esse partido, que ele acha que representa todo o nosso povo, faz coisas inacreditáveis como felicitar o presidente ilegal e tirânico do Zimbabué por uma victória que, pura e simplesmente, não existiu.
De resto essa designação de “partido de todo o povo” remete-nos para o tempo do mono-partidarismo, do partido-estado”. Será sobre isso que o ideólogo Macuácua nos está a prevenir? Sobre o regresso de Moçambique ao sistema mono-partidário?
Ou será que ele despejou a primeira verborreia que lhe veio à cabeça como faz frequentemente, sempre que os prestáveis membros da imprensa, rádio e televisão estatais lhe abrem, acriticamente, os microfones?
Muito recentemente um alto dirigente da Frelimo deu-me a entender que a história dos parabéns à ZANU FP foi coisa apenas da responsabilidade do bom do Edson. Que a direcção do partido teria ficado muito incomodada com uma tão estapafúrdia iniciativa.
Só que não me recordo de ter tido conhecimento de nenhum desmentido. E, diz o povo, quem cala, consente. Portanto, por muito aborrecida que estivesse a cara desse alto dirigente da Frelimo, ao contar-me a história, os parabéns ao Mugabe continuam de pé, como política oficial do seu partido.
Para sua enorme vergonha...
Qual será a próxima pérola com que nos vai brindar o jovem ideólogo? Mantenha-se atento, amigo leitor.
SAVANA - 25.07.2008