Por António Cabrita
Gustavo Mavie, em duas edições de O País (28 de Junho e 4 de Julho), num texto longo intitulado “Os Africanos são culpados do seu atraso sócio-económico?”, fez um esforço meritório para tecer algumas explicações sobre o atraso crónico dos países africanos, pródigos nas oportunidades que desbaratam, e compara-o com o sinal contrário dado por distintos povos e raças na mesma situação.
Mavie desmonta a equívoca hipótese das diferenças raciais, para concluir com o óbvio: o que se passa é que eles (brancos e amarelos, como alemães, japoneses, vietnamitas, dentre o ror de exemplos evocados) trabalham mais e estudam mais do que nós (os africanos). Porquê?
As teorias de René Girard (um antropólogo da cultura e das religiões) podem ser-nos úteis, pois encontram uma ampla ressonância nas práticas sociais.
Uma das suas teses mais fecundas é a seguinte: o mimetismo (a imitação) é o verdadeiro motor que está por detrás do dinamismo do desejo; sendo, pelo seu lado, as relações humanas governadas pelo contágio do desejo. Isto, simplificando uma tese extremamente complexa e cujas premissas se verificam em todos os ramos da representação social. Como se lê na sua obra de 1994, Quand les Choses Commenceront…: «As relações humanas estão sujeitas ao conflito: quer falemos de casamento, de amizade, de relações profissionais, de questões de vizinhança ou de coesão nacional, as relações humanas estão sempre ameaçadas pela identidade dos desejos. Os homens influenciam-se uns aos outros e, assim que estão juntos, têm tendência a desejar as mesmas coisas, não em função da sua raridade, mas porque, contrariamente ao que pensam a maior parte dos filósofos, a imitação conduz também os desejos. O homem procura tornar-se um ser que é essencialmente fundado sobre o desejo do seu semelhante» (pág. 27, tradução e sublinhado meus).
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