O CONGRESSO Nacional Africano (ANC) e os parceiros de coligação no Governo sul-africano acusaram a ZANU-FP e o seu presidente, Robert Mugabe, de terem traído os princípios e valores dos movimentos de libertação, foi terça-feira noticiado.
Maputo, Quinta-Feira, 24 de Julho de 2008:: Notícias
Em comunicado emitido no final de uma reunião de alto nível do ANC, no poder na África do Sul desde 1994, com os parceiros de coligação (Partido Comunista, SACP, central sindical COSATU e movimento cívico Sanco), os históricos aliados de Mugabe e do seu partido criticam duramente o comportamento dos últimos anos dos dirigentes zimbabweanos, acusando-os de "utilizar órgãos dos Estado para criar um clima de medo".
A posição conjunta dos parceiros de coligação governamental da África do Sul "reprova a forma como a ZANU-PF se tem comportado" e constitui uma quebra total de solidariedade com o chefe do Estado sul-africano, Thabo Mbeki, que é o mediador da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) na crise zimbabweana.
O acordo que permite o começo de negociações substanciais sobre uma fórmula de partilha do poder no Zimbabwe, assinado segunda-feira em Harare, não parece ter granjeado quaisquer aplausos para Mbeki, nem dentro, nem fora do seu próprio partido, afirmaram analistas sul-africanos que acusam o Presidente sul-africano de ter, com o seu alegado apoio tácito a Robert Mugabe, permitido que o Zimbabwe tenha entrado em total colapso político, social e económico.
Embora o ANC apoie, no mesmo texto, a continuação da mediação no processo zimbabweano por parte de Mbeki - agora em sintonia, além da SADC, com a União Africana e a ONU, aponta um dedo acusador à ZANU-PF e aliados pela prepotência e belicismo que imprimiu à governação do Zimbabwe desde que está no poder.
O isolamento de Thabo Mbeki dentro do seu próprio partido - evidente desde que perdeu a presidência do ANC para Jacob Zuma em Dezembro do ano passado - começa agora a ser quase insustentável, referiram observadores sul-africanos, segundo a Lusa.
Depois de no plano doméstico a nova liderança do ANC ter iniciado uma autêntica purga de responsáveis nacionais e provinciais leais a Mbeki, a política externa do Presidente é agora também fortemente contestada, refere a agência portuguesa de noticias.
"A prova de fogo de Mbeki no derradeiro ano da sua presidência, será a evolução das negociações do Zimbabwe. Se elas não produzirem uma solução pacífica e duradoura para o país, os seus aliados e a região não lhe perdoarão a 'obcecada insistência' na diplomacia silenciosa que mais não tem sido do que uma forma de apoio a Robert Mugabe enquanto o país se afundava na crise e na tragédia", disse à Agência Lusa um dirigente do ANC que pediu para não ser identificado.