John Marcum
• Entrou clandestino em Angola em 1962; insurgiu-se contra a intervenção dos EUA na guerra civil angolana; publicou obras de referência sobre a libertação nacional. Nesta entrevista, John Marcum, académico norte-americano ligado a Angola desde 1958, olha o país de frente e defende uma maior abertura democrática.
Por Pedro Cardoso
Tem várias obras e artigos sobre a luta pela libertação nacional angolana. Como surgiu este interesse?
Em 1958 estava a fazer uma pesquisa na costa ocidental africana sobre como os franceses incorporavam os seus territórios nos últimos dias de colonização. A dada altura recebi uma carta de Nova Iorque onde me avisavam que estava prestes a acontecer no Gana a primeira Conferência dos Povos Africanos. Fui então para Accra, onde assisti ao encontro que reuniu líderes como Patrice Lumumba e Kwame Nkrumah. Havia um único representante de Angola, que me apresentaram como sendo “José Gilmore”. Era o nome de código de Holden Roberto.
Mas a sua primeira vinda a Angola aconteceria só em 1962.
Entre 1958 e 1962, enquanto professor da Lincoln University, contactei com estudantes africanos, que me puseram a par do que ia acontecendo por cá. Pouco tempo depois da luta armada em Angola começar, em 1961, a NBC noticiou que o conflito tinha acabado. Um amigo meu, George Houser [então director do American Commitee on Africa], que tinha bons contactos com Holden Roberto, disse que não acreditava nisso e então decidimos vir até cá para ver o que se passava. Chegámos em Janeiro de 1962 a Leopoldville, actual Kinshasa, e de lá partimos em direcção ao norte de Angola. O carro em que viajávamos, a dada altura atolou na lama. Resultado: em vez de atravessar a fronteira de noite, para não sermos detectados, quando desenterrámos o carro, já o sol brilhava com toda a intensidade (risos). Mas não encontrámos nenhum posto de controlo, nem sabíamos ao certo onde era a fronteira. Algum tempo depois chegámos ao quartel-general da UPA, comandado por João Baptista.
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