A dificuldade de andar durante a noite pelas ruas de Bissau, capital da Guiné-Bissau, devido à falta de iluminação pública está tentando ser superado pelos guineenses com a utilização de telefones celulares.
No país, o celular serve para comunicar, mas também para iluminar a imensa escuridão que cobre o país, devido à crônica falta de energia elétrica da rede pública, o que acontece há cerca de dez anos.
Até a guerra civil de 1998, a central elétrica da capital guineense tinha uma potência instalada de cerca de 13 MW, que dava para cobrir grande parte das necessidades energéticas dos habitantes de Bissau.
Segundo dados do governo, a energia produzida pela central elétrica de Bissau não ultrapassa atualmente os 1,5 MW e o resultado é um país às escuras assim que o sol se põe.
Números oficiais indicam que o mercado dos celulares na Guiné-Bissau está crescendo, e em julho atingiu 300 mil pessoas que tinham o aparelho. A população do país é de 1,3 milhão de habitantes.
Dando sentido ao velho ditado popular português "quem não tem cão caça com gato", os guineenses inventaram soluções próprias, recorrendo aos aparelhos para iluminar os sinuosos caminhos de Bissau e, pelo menos, evitar quedas.
Nas ruas do país à noite, é comum ver jovens a conversarem ao celular, enquanto o movimentam para iluminar um buraco.
Nos cruzamentos, nas ruas, nos escritórios da capital ou nas cidades do interior, a cena é a mesma. Pequenas luzes brancas e amarelas, que mais parecem velhos candeeiros, iluminam a circulação entre os transeuntes e ajudam a procurar objetos.
"Nunca pensei que um celular fosse assim tão útil na minha vida", afirmou Umaro Danfá, um jovem guineense, que regressou ao país depois de ter passado 12 anos estudando na Rússia.
Novo negócio
Mas a capacidade inventiva dos guineenses não fica por aqui. Já que os aparelhos precisam de corrente elétrica para carregar as baterias, e uma vez que não há energia da rede pública, florescem negócios de recarga das pequenas baterias dos aparelhos.
Algumas pessoas montam verdadeiras empresas para carregar celulares, com recurso a pequenos geradores, cobrando entre 200 e 300 francos CFA (cerca de R$ 1), dependendo da zona do país onde estiver o negócio.
Atentos a estas necessidades estão também os chineses, que já colocaram no mercado guineense um pequeno carregador, tipo isqueiro, que leva uma pilha de 1,5 volts e carrega uma bateria de celular em duas horas.
LUSA - 29.09.2008