Marcando o inicio da luta armada
Chipande reitera ter disparado o primeiro tiro
- Reagindo algumas informações que dão conta que a luta de libertação nacional teria começado em varias frentes tornando se difícil saber quem teria disparado o primeiro
O General do exercito e antigo ministro da Defesa Nacional no primeiro governo de Moçambique independente, Alberto Chipande, reiterou ontem, ter sido ele que disparou o primeiro tiro que indicava o inicio da luta armada de libertação nacional contra o colonialismo português.
Chipande reagia assim às informações que têm circulado nos últimos anos que dão conta que a luta de libertação nacional teria começado em várias frentes, tornando-se difícil saber concretamente - quem teria disparado o primeiro tiro.
Na mesma ocasião, aquele antigo Ministro da Defesa Nacional considerou que as pessoas que propalam estas informações querem deturpar a historia nacional, e lançou igualmente um desafio à essas pessoas para apresentarem provas concretas que contrariam aquilo que sucedeu naquela noite de 25 de setembro de 1964.
Informações oficiais apontam que Alberto Chipande foi quem disparou o primeiro tiro a 25 de Setembro de 1964, no posto administrativo de Chai, distrito de Macomia, Província nortenha de Cabo Delgado, marcando o inicio da luta armada pela independência do País.
Falando ao mediaFAX por ocasião do 44º aniversario do inicio da luta de libertação nacional, que ontem se assinalou, Chipande explicou que, nesse dia, ele e os seus camaradas tomaram posições junto à residência do chefe de posto administrativo e de seguida, ele se aproximou do alvo tendo disparado uma rajada de tiros atingindo um dos guardas.(SN)
OBS.:
Este relato é um pouco diferente do que escreveu no relatório.
NOTA:
Repito do que já antes aqui foi publicado:
Será que a verdade do 25 de Setembro de 1964 será reconhecida em 2004?
Independentemente do valor simbólico da data – 25 de Setembro de 1964 – será que Alberto Chipande repetirá neste ano de 2004 o que escreveu no seu relatório:
O polícia veio e estacionou à porta da casa do chefe de posto, sentado numa cadeira. Era branco. Eu aproximei-me do polícia para o atacar. O meu tiro era o sinal para os outros camaradas atacarem. O ataque teve lugar às 21 horas. Quando ouviu os tiros, o chefe de posto abriu a porta e saiu — foi morto por um tiro. Para além dele seis outros portugueses foram mortos no primeiro ataque. A explicação dada pelas autoridades portuguesas foi «morte por acidente». Retirámos. No dia seguinte fomos perseguidos por algumas tropas — mas nesse momento já estávamos longe e não nos encontraram (').
(1) Mondlane, Eduardo, The struggle for Mozambique, p.15"
Ou será que repetirá o que em 2003 afirmou à BBC inglesa:
Alberto Chipande, hoje general na reserva, foi o autor do disparo que marcou o início da luta pela independência.
CHIPANDE: ... o primeiro grupo que entrou em Cabo Delgado, 1964, para iniciar a luta na província de Cabo Delgado.
Ao mesmo tempo, foi o meu grupo que tinha essa missão de ir atacar Porto Amélia, mas como as condições não foram favoráveis, calhou que no dia 25 de Setembro eu fizesse o combate em Chai. Eu fui o comandante. Precisamente pelas 20 horas do dia 25 de Setembro de 1964.
BBC: General, quantos elementos faziam parte do seu grupo?
CHIPANDE: Nesse dia, quando atacámos, nós éramos um grupo de 12 pessoas que atacámos o Posto de Chai.
BBC: Estão todos vivos?
CHIPANDE: Alguns estão vivos e alguns já faleceram durante o tempo da luta armada e outros após a independência.
BBC: Depois de terem atacado o Posto de Chai, como é que foi a retirada? O que é que aconteceu depois?
CHIPANDE: Quando eu disparei o primeiro tiro que atingiu ao sentinela que estava ali atrás, que guarnecia a casa do chefe do posto, os meus colegas, um dos meus colegas abriu fogo directamente para o chefe de posto que caiu logo em frente. E começámos então o ataque. Depois do ataque, que durou aproximadamente uns minutos, eu dei o sinal de recuo e todos recuámos. Não perdemos nenhum do nosso lado, nem ferido, e ao mesmo tempo não perdemos nenhum material.
Ou será que seguirá o que a comissão da ARPAC “descobriu”:
Ensina-nos a História da Frelimo que no desencadeamento da Luta Armada de Libertação Nacional, na noite do dia 25 de Setembro de 1964, foram mortas, pelo menos, duas pessoas, nomeadamente o Chefe do Posto Administrativo Colonial de Chai e o sentinela que guarnecia a residência do Chefe do Posto.
Alberto Joaquim Chipande, o autor do primeiro tiro dado no Chai naquela noite, tem vindo a afirmar e a reafirmar o que os livros da Frelimo ensinam sobre as consequências do primeiro tiro rumo à libertação.
Porém, hoje, quarenta anos depois, tudo indica que essa história do primeiro tiro não está lá muito bem contada, ou, pelo menos, não parece haver consenso sobre as consequências desse primeiro tiro, a julgar pela recente pesquisa levada a cabo pelo ARPAC (Arquivo de Património Cultural), instituição do Estado subordinada ao Ministério da Cultura.
De acordo com essa pesquisa, baseada em 35 entrevistas a pessoas “idosas e nativas de Chai” durante o ataque dos guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique “nenhuma pessoa foi morta”.
“Uma semana depois do ataque, houve sim, uma morte. Tratou-se do cunhado do Chefe do Posto que, quando regressava do rio Messalo à busca de água de viatura, caiu numa emboscada” , refere o documento do ARPAC citado pela última edição do jornal “Horizonte”publicado na cidade de Pemba.
Em relação a esta morte posso acrescentar e esclarecer:
O Chefe do Posto à data do ataque chamava-se Felgueiras e estava com a família lá. Na hora do ataque não estava no posto pois tinha ido ao Messalo com 2 polícias e varios cipais. Só ficou no posto um polícia branco e vários cipais. Também lá moravam funcionários do posto, o Pinheiro e o Brandão, mais a família Alves. O enfermeiro chamava-se Tivane. O Cozinheiro era o Amade.
O Felgueiras pediu ao Governador para sair e foi temporariamente substituí-lo o Dias de Macomia. Talvez uma semana depois foi o Fonseca lá colocado que levou a mulher. Vindo de Portugal estava com eles o cunhado deste que foi quem, não uma semana, mas cerca de 3 semanas depois, foi morto quando passava junto ao Rio Messalo vindo do Monte Oliveiras. Vinham 3 pessoas no Jeep e ele ia no meio. As outras duas nada apanharam e ele levou um tiro entre os olhos, vindo a falecer já depois de evacuado.
Assim não foi o cunhado do Chefe do Posto da altura que foi morto, mas o cunhado do que o veio substituir.
Fernando Gil
Um depoimento presencial:
25 de SETEMBRO 1964 / 2007 – 43 ANOS
Transcrevo:
"25/9/64-Completa-se às 21:00 de Moçambique o aniversário do primeiro ataque (oficial) da Frelimo e sua guerra de libertação.
Foi no Chai, norte de Macomia, a 10Kms do rio Messalo. Tinha 8 anos, estava lá, assim como os meus pais, não morri... nem ninguem morreu de ambos os lados, e lembro-me de quase tudo. Tudo se resumiu a 2 rajadas de metralhadora (uma de cada lado). Demorou 1 ou 2 minutos e depois foi a fuga dos atacantes...
A data, hoje em dia, é comemorada em Moçambique como Dia das Forças Armadas.
-Por Manuel A. T. Alves"
Como a MANU não existia para a FRELIMO, poderemos até considerar que foi Chipande quem deu o 1º tiro, mas para não me estar a repetir e porque nada há de novo, aconselho uma consulta em:
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/chai_250964/index.html