O EX-PRESIDENTE sul-africano, Thabo Mbeki, já previa nos meados da década 90 a cisão no Congresso Nacional Africano (ANC - partido no poder), após a estabilização da situação política no seu país. Esta é a versão do escritor e jornalista William Gumede, autor do livro intitulado “Thabo Mbeki and The Battle for The Soul of The ANC”, (tradução em português, Thabo Mbeki e a Batalha pela Alma do ANC).
Maputo, Sexta-Feira, 26 de Setembro de 2008:: Notícias
Segundo Gumede, para sustentar os seus argumentos, Mbeki defendia que a principal componente do ANC haveria de continuar a ser um partido social democrata, enquanto que as suas outras componentes e que formam a aliança tripartida, nomeadamente a Confederação dos Sindicatos Sul-Africanos (COSATU) e o Partido Comunista da África do Sul (SACP), acabariam por formar um partido da esquerda.
Aliás, essa foi uma das razões que, em 2005, levaram a COSATU e o SACP a decidir sobre a necessidade de formar um novo partido da esquerda. Mais tarde, decidiram fazer um recuo estratégico e apoiar a Mbeki, ao invés, de Jacob Zuma, numa tentativa de influenciar o rumo do ANC.
A COSATU e o SACP teriam efectivamente formado um novo partido, no caso de um fracasso na mudança do rumo do ANC, que, segundo aquelas organizações, deveria adoptar políticas viradas para as populações mais carenciadas.
Contudo, tudo acabou por mudar de cenário quando o Presidente Thabo Mbeki decidiu afastar Jacob Zuma da vice-presidência sul-africana.
Assim, Zuma optou por se aliar a COSATU e SACP, tendo assinado um pacto ao abrigo do qual estas duas organizações abdicavam da formação do seu próprio partido político a troco da adopção, pelo ANC, de políticas favoráveis as pessoas mais desfavorecidas.
Actualmente, o ANC encontra-se mergulhado numa crise sem precedentes, valendo-se apenas da ausência de uma oposição efectiva, o que é visto como um dos maiores problemas da jovem democracia da África do Sul.
A demissão de Mbeki da presidência sul-africana, quando apenas faltavam seis meses para o término do seu mandato, abre a possibilidade para a cisão do ANC e a formação de um novo partido político.
Aliás, alguns membros do Governo sul-africano e apoiantes de Mbeki são reportados como tendo confidenciado a iminência do surgimento de um novo partido político, formado por dissidentes do ANC.
Alguns dos apoiantes do ANC estão desapontados com Zuma, que actualmente exerce as funções de presidente do partido, e ameaçam não votar no ANC nas próximas eleições gerais. Contudo, caso se efective a cisão do ANC, não será da forma como Mbeki e outros membros seniores do partido haviam pensado, pois o ANC parece estar a fazer uma viragem para a extrema esquerda, enquanto os centristas se juntam à volta de Mbeki e a pensar na formação de um novo partido.
No fim, a melhor solução para a África do Sul poderá ser a cisão do ANC entre duas facções, uma com tendência para a esquerda e a outra com tendência centro – direita.
* AIM