Por Mia
Couto
Os
africanos rejubilaram com a vitória de Obama. Eu fui um deles. Depois de uma
noite em claro, na irrealidade da penumbra da madrugada, as lágrimas corriam-me
quando ele pronunciou o discurso de vencedor. Nesse momento, eu era também um
vencedor. A mesma felicidade me atravessara quando Nelson Mandela foi libertado
e o novo estadista sul-africano consolidava um caminho de dignificação de
África.
Na noite de 5 de Novembro, o novo presidente norte-americano não era apenas um homem que falava. Era a sufocada voz da esperança que se reerguia, liberta, dentro de nós. Meu coração tinha votado, mesmo sem permissão: habituado a pedir pouco, eu festejava uma vitória sem dimensões. Ao sair à rua, a minha cidade se havia deslocado para Chicago, negros e brancos respirando comungando de uma mesma surpresa feliz. Porque a vitória de Obama não foi a de uma raça sobre outra: sem a participação massiva dos americanos de todas as raças (incluindo a da maioria branca) os Estados Unidos da América não nos entregariam motivo para festejarmos.
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