UM ano após a Cimeira África/Europa, o impacto que deveria reflectir-se nas relações entre os dois continentes é "nulo", havendo ainda um "longo caminho a percorrer" para que algo mude nos contextos económico, financeiro e social.
A conclusão retira-se das palavras dos responsáveis por três das principais organizações não-governamentais (ONG´s) africanas a quem a Agência Lusa pediu um balanço do primeiro ano após a II Cimeira África/Europa, realizada a 8 e 9 de Dezembro de 2007, em Lisboa.
Taoufik Ben Abdallah, presidente da ENDA Tier Monde e responsável pelo Grupo Africano no Fórum Mundial da Sociedade Civil, que decorreu também em Lisboa nos dias que antecederam a cimeira, justificou a conclusão com o facto de a Europa nada ter mudado nas suas estratégias e políticas.
"De uma maneira geral, a cimeira não teve qualquer impacto nas relações entre a Europa e África. A Europa não mudou nas suas estratégias e políticas e ficou demonstrado que, no contexto da crise económica, a Europa não agirá com solidariedade, mas apenas na defesa dos seus próprios interesses", sublinhou Abdallah.
As críticas abarcam sobretudo a relação comercial, com a "pressão" europeia para a assinatura dos Acordos de Parceria Económica (APE) e a "exclusão" de África das negociações para a reforma do sistema monetário e financeiro mundial, em plena crise internacional.
Também a prevenção e gestão dos conflitos é alvo de críticas, uma vez que nada se adiantou em relação aos conflitos no Sudão e República Democrática do Congo e à crise política no Zimbabwe, face à "descoordenação e a contradições" da União Europeia.
Na questão da imigração surgiu a política migratória mais extremista do mundo, transformando a Europa "numa espécie de muralha inacessível aos imigrantes", disse Abdallah.
"A Europa deve deixar de impor o primado do direito económico e comercial sobre os direitos sociais e culturais dos povos dos países em desenvolvimento", disse Avelino Bonifácio Lopes, presidente da Plataforma das ONG´s de Cabo Verde e um dos relatores do texto final do Fórum da Sociedade Civil.
No seu entender, a Europa deve começar a contribuir para uma "alteração profunda" dos princípios e modalidades da ajuda pública ao desenvolvimento, tendo em conta que não se pode continuar a financiar os aparelhos de Estado, "mormente de governos sem legitimidade e sem escrúpulos".
"Se se colocar os objectivos (da cimeira) numa perspectiva muito alta, então o balanço é negativo. Mas se tivermos consciência de que as cimeiras são um processo evolutivo, isso ajuda a aumentar a consciência pública", afirmou o angolano Carlos Figueiredo, vice-presidente da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA).
No entanto, Taoufik Ben Abdallah vê nisso uma "fraca consolação", sustentando que, após a cimeira, "são poucas as coisas que respondem aos anseios dos africanos", tal como referiram à Lusa, em meados de Novembro, várias ONG’s portuguesas, que divulgarão, hoje, segunda-feira, em Lisboa, uma tomada de posição crítica sobre a actuação da Europa no pós-cimeira.