
O comboio da esperança
O PRIMEIRO comboio voltou, vinte e cinco anos depois, a apitar no último sábado no distrito de Marromeu, em Sofala, numa carreira experimental de passageiros e carga. Foi motivo de festa para as várias comunidades que habitam AS zonas ao longo dos cerca de 300 quilómetros de extensão da ferrovia, parte integrante da linha férrea de Sena, principal eixo de acesso ao porto da Beira para vários países do hinterland da África Austral.
Manifestando uma alegria incontida, milhares de pessoas concentraram-se em cada uma das estações ao longo da via para testemunhar o regresso do comboio. Para uns, foi uma questão de recordar os velhos tempos em que o comboio transportava vida ao longo da ferrovia, para outros, mais jovens, foi uma experiência única, quiçá a primeira na vida.
Para a viagem experimental, o comboio levava seis carruagens, ocupadas por passageiros distintos, entre governantes, políticos, diplomatas e outras individualidades que foram ver de perto o resultado do trabalho de reabilitação da linha que ainda decorre agora na sua fase final.
O governador de Sofala, Alberto Vaquina, que de estação em estação procedia à entrega simbólica do troço à população, foi transmitindo mensagens de esperança para as comunidades. Segundo ele, a linha férrea traz desenvolvimento, pelo que a população deve acompanhar o processo para acelerar o combate à pobreza.
Alberto Vaquina foi arrancando aplausos da população, satisfeita com a ideia de saber que é ela a dona da linha, que a reabertura da via e consequentemente da circulação do comboio era sinal de que o relacionamento entre as pessoas e o seu Governo é bom.
“Quando o Governo e as pessoas se entendem as coisas andam bem. Sempre que virem o comboio tenham em mente de que vos pertence e tenham orgulho de dizer “ este é o meu suor, são os meus calos”, disse Vaquina.
Sempre com intervenções curtas o governador de Sofala, foi explicando que o comboio é um meio de transporte preferido devido aos preços razoáveis que oferece comparativamente aos outros.
Contactado pelo “Notícias”, Nivaldo Ferreira, Director Fabril da Companhia de Sena, uma das maiores firmas açucareiras do país, disse que o comboio vai ajudar a rentabilizar a sua empresa quando esta começar a escoar o açúcar via ferroviária. Neste momento, o produto daquela açucareira é transportado via fluvial e rodoviária.
Ferreira não comentou sobre os custos que a sua empresa arca actualmente com o transporte da sua produção até ao Porto da Beira, mas assegurou que, com a linha férrea a operacional, a companhia de Sena vai escoar mais de 70 mil toneladas do açúcar que constituem a sua produção.
Por seu turno, Adelino Mesquita, Administrador Executivo dos CFM, disse que brevemente será formalmente entregue o troço Inhamitanga/Sena por, segundo afirmou, a fase de reconstrução encontrar-se bastante avançada.
Já o director executivo da CCFB, Ghan Shyan Swaroop, que também esteve na cerimónia disse que a linha de Sena é estratégica na região do vale do Zambeze, que vai permitir que se transporte 80 por cento da carga nacional composta por açúcar, calcário, madeira, produtos agrícolas e outros.
Refira-se que a Companhia dos Caminhos de Ferro da Beira (CCFB), que está a operar as linhas de Sena e de Machipanda, é uma empresa fundada em Moçambique pelas firmas RITES, IRCON, e CFM para gerir a concessão do corredor da Beira.
- RODRIGUES LUÍS