As autoridades angolanas opuseram-se à exibição em
Luanda de um documentário histórico, intitulado, “Cuba, uma Odisseia
Africana” com trechos de uma versão pró - cubana sobre a participação
militar dos soldados de Fidel em Angola cujo conteúdo contradiz a
versão que o Estado angolano apresenta aos seus cidadãos.
O documentário foi realizado em 2007 pela francesa (de origem egípcia)
Jihan El Tahri, e revela a história da Guerra Fria no seu cenário mais
desconhecido em que Cuba de Fidel Castro exerce um papel central na
nova estratégia ofensiva da nações do Terceiro Mundo contra o
colonialismo dos novos e antigos impérios. Ilustra revolucionários
africanos, como Patrice Lumumba, Almícar Cabral ou Agostinho Neto que
chamam os guerrilheiros cubanos para lhes ajudarem na sua luta.
Das revelações feitas no documentário, destacam-se as seguintes:
- Número exacto de soldados cubanos em território angolano que é superior aos dados que é do conhecimento público;
- Revela que as tropas angolanas inicialmente sofreram revezes/derrota na batalha do Cuito Cuanavale;
- O documentário mostra que foram os cubanos que estiveram nas frentes estratégicas da mesma batalha;
- De um modo geral, o documentário ofusca a mensagem que as autoridades
passaram desde Março último que apresenta o Presidente José Eduardo dos
Santos como “o estratega da vitória das FAPLA contra o então exército
do apartheid”. De acordo com a versão pró - cubana, o estratega foi
Fidel de Castro que a partir de Cuba instruía os seus homens através do
General Uchoa que, no terreno, liderava as tropas cubanas em Angola.
Há evidências de que o conteúdo do documentário inquietou a
"Inteligência" angolana que segundo algumas interpretações, as suas
acções destinam-se a impedir que o vídeo circule em Luanda:
- Um professor da Universidade Lusíada, Mário Andrade, mostrou o
documentário aos seus alunos do curso de relações internacionais e dias
depois foi chamado e advertido por elementos dos Serviços de
Inteligência Militar (SIM), da linha do General José Maria, sobre a
exibição do vídeo. O referido professor que é também analista político
já não é visto na emissora estatal angolana, a RNA, nem na Televisão
Pública de Angola (TPA) a fazer comentários da vida política;
- Um grupo de jovens cineastas que pretendia divulgar o mesmo
filme/documentário por altura de um evento cinematográfico, o festival
internacional de Cinema realizado desde o dia 22 Novembro em Luanda,
recebeu telefonema "intimidatório" deixando-os inibidos. O documentário
histórico não foi mais exibido;
- Um quadro sénior do Ministério da Cultura foi "discretamente" avisado
sobre a "gravidade" do conteúdo do documentário despropositado para
consumo público;
- O Semanário "Novo Jornal" trouxe como chamada de capa, na sua última
edição, o título "censurado" constituindo evidencia que o referido
documentário está a sofrer censura por parte das autoridades angolanas.
O Documentário no seu todo aborda a guerra fria e seus conflitos, desde
o envolvimento de Che Guevara no Congo, até à batalha de Cuito
Cuanavale, em Angola. A intervenção cubana no Congo em 1965 viria a
trazer ao de cimo sérias divisões no seio dos movimentos nacionalistas,
em que por um lado o MPLA de Agostinho Neto apoiava a política de Cuba,
e, por outro, a Frelimo de Eduardo Mondlane, então fiel aliado dos
Estados Unidos, adoptava uma posição irredutível em relação aos
desígnios cubanos na África Austral. A Marcelino dos Santos coube então
a ingrata tarefa de rejeitar, em nome da Frelimo, o plano
cubano-soviético no decurso de uma missão que o levou, em Outubro de
1965, a Brazzaville onde se avistou com Jorge Risquet.
(Redacção / Club-k.net)- CANAL DE MOÇAMBIQUE - 03.12.2008