A talhe de foice
Por Machado da Graça
Não restam dúvidas de que as áreas da defesa e da segurança foram, e continuam a ser, os pontos mais fracos do desempenho do mandato presidencial de Armando Guebuza.
O rebentamento do paiol de Maputo demonstrou, sem margem para dúvidas, a incompetência e o desleixo que iam no sector militar. E as mortes que se seguiram, durante a remoção dos explosivos, só agravou a demonstração dessa situação.
No campo da segurança e ordem pública a crise tem sido permanente. Têm sido ondas sucessivas de criminalidade que vão crescendo até a opinião pública começar aos berros a exigir responsabilidades. Depois acalma por um período curto e logo se retomam os tiroteios e as matanças, as fugas e tudo o mais a que estamos a assistir novamente neste momento.
E o pior é a sensação, cada dia mais forte, que nunca podemos ter a certeza onde acaba o polícia e começa o bandido. É tudo muito nebuloso, muito cheio de segredos e cumplicidades.
Quantas vezes, ao longo dos últimos anos, os tiroteios e as matanças não foram realizados entre membros da mesma corporação? E por que é que nunca há culpados dessas coisas? Por que fica sempre tudo por esclarecer?
Será que as malhas da cumplicidade vão até tão alto que tocar nos responsáveis pode pôr em causa o poder político?
Os incêndios nos ministérios da Agricultura e das Finanças, muito provavelmente de origem criminosa, mostram que há muito que se quer esconder aos nossos olhos, queimando arquivos.
A nova fuga do Anibalzinho mostra que ainda há gente com poder suficiente para tentar impedir que ele vá a tribunal contar a sua nova versão sobre o assassinato do Carlos Cardoso. Ainda há forças suficientemente poderosas que preferem ver o Estado cair no ridículo total em vez de se arriscarem a que o seu nome seja coberto de vergonha em sede de julgamento.
E a história, tão mal contada e tão cheia de segredos, da recaptura dos criminosos e seu posterior desaparecimento também nos deixa imensas dúvidas no espírito:
Será que o Anibalzinho foi, ou não foi, recapturado?
Se foi, como garantem fontes que os jornalistas consideram merecedoras de confiança, por que é que voltou a desaparecer? Que forças se moveram nesse sentido?
Se não foi, por que é que as tais fontes, normalmente dignas de confiança, inventaram essa notícia?
E, seja qual for a resposta, para que é que quiseram os três bandidos fora da prisão? Para lhes darem a liberdade ou para lhes darem uns tiros, acabando definitivamente com o problema?
A verdade é que as coisas parecem ir de mau a pior e tenho algumas dúvidas de que substituir o Número 1 da Polícia pelo Número 2 venha a resolver os problemas. A diferença de responsabilidade entre os dois é tão pequena que não parece que a mudança de comando possa trazer significativas melhorias. A não ser se, sem ser do conhecimento público, os dois representavam linhas opostas, ou, pelo menos, muito diferentes, e Custódio Pinto obrigava Jorge Khalau a seguir a sua linha, contra a vontade deste último.
No meio de todo este descalabro nas áreas da segurança dos cidadãos, ficamos espantados ao ler, no Correio da Manhã de dia 23, que o Orçamento Geral do Estado reduziu para metade a verba atribuída anteriormente ao Serviço Nacional de Prisões, o mesmo acontecendo com a verba para o Centro de Formação Jurídica e Judiciária, de que a actual Ministra da Justiça foi directora anteriormente.
É estranho que, nas actuais circunstâncias, em vez de se aumentar as verbas estatais para estes elos mais fracos, elas sejam reduzidas a metade. Parece brincadeira. Brincadeira de mau gosto.
Em resumo, diria que a segurança dos cidadãos esteve muito mal servida em 2008 e, a avaliar por este orçamento, provavelmente vai estar pior em 2009.
É bom, portanto, que estejamos preparados para isso...
SAVANA - 26.12.2008
NOTA:
-Mas a verba para a Presidência e Assembleia da República foram aumentadas... A bem do POVO, digo eu.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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