Editorial: Mugabe continua a matar os zimbabweanos
No Zimbabwe prossegue o morticínio imposto pelo regime sanguinário e irresponsável de Harare. Enquanto isso, mantém-se a nossa indignação contra o facto e ainda contra o silêncio do presidente Armando Guebuza e da Frelimo, partido no poder, por se manterem ambos solidários com Mugabe e os seus acólitos.
O regime assassino de Robert Mugabe continua impávido e sereno a usufruir de poderes ilegítimos fruto de eleições viciadas. Violentou os cidadãos para os impedir de escolherem livremente quem desejam que os governe. Agora, prende, faz desaparecer e mata os seus opositores. Continua a fazê-lo impunemente e apoiado pelo silêncio cúmplice de certos governos vizinhos, como é o caso do Governo de Moçambique liderado por Armando Guebuza e chefiado por Luísa Diogo, ambos da Comissão Política da Frelimo de que também não se ouvem vozes de protesto.
O acordo entre a ZANU-FP e o MDC, assinado a 15 de Setembro deste ano, nunca foi respeitado por Robert Mugabe e seus correligionários.
O acordo de partilha de poder entre a ZANU-FP e o MDC, assinado por Robert Mugabe e Morgan Tsvangirai, continua a ser letra morta. Mugabe ignora tudo o que se comprometeu a fazer. E comprometeu-se por escrito. Nem assim tem a dignidade de cumprir o que subscreveu. Está bem patente o seu carácter.
Quem tem ainda dúvidas de que Mugabe não é um homem sério?
O regime de Mugabe não respeita nada, nem ninguém e continua a reprimir o povo e a assassinar os zimbabwenaos que não subscrevem as suas políticas que fizeram do Zimbabwe um autêntico vale de lágrimas e um cemitério de grandes proporções.
Os zimbabweanos estão a viver uma autêntica catástrofe humanitária.
A SADC está a demonstrar a verdadeira dimensão da sua importância. Não só não se consegue impor, como se mantém muda perante o absurdo da primeira deliberação do Tribunal Judicial da SADC, com sede na Namíbia, estar a ser pura e simplesmente ignorado pelo regime de Mugabe.
É um regime que se recusa a respeitar a SADC e o seu Tribunal que Guebuza apoia? Porque espera para o denunciar?
O Governo de Moçambique continua mudo. Armando Guebuza e o governo formado pela Frelimo continuam a fingir que nada se passa no Zimbabawe.
A Assembleia da República de Moçambique também não ousa produzir um apelo ao bom senso do governo moçambicano e dos governos da SADC. Nem da bancada da oposição se ouvem protestos. Uma vergonha!
A Renamo-União Eleitoral podia submeter uma proposta de declaração a condenar o regime de Robert Mugabe. Seria uma oportunidade para definitivamente o mundo poder ficar sem dúvidas, e nós também, sobre o lado em que o governo de Moçambique e o regime da Frelimo está, relativamente ao regime mugabiano. O silêncio da nossa dita “oposição” também mostra que tipo de gente temos nesse papel naquela magna casa. Outra vergonha!
O chefe de Estado Armando Guebuza disse há dias que a xenofobia na África do Sul, que este ano pôs em debandada milhares de nossos compatriotas que conseguiram safar-se do genocídio que se preparava e de que ainda resultaram dezenas de óbitos de moçambicanos, foi uma tentativa de impedir a integração regional. Usando esse argumento, perguntamos: alguém na África Austral, com bom senso, de senso comum, pode querer alguma integração com um país governado por um déspota e seus acólitos? O que Mugabe está a promover no Zimbabwe não é um genocídio em crescendo? Porque se mantém calado o presidente Guebuza? Não estará Guebuza com o seu silêncio a querer promover o descrédito da SADC, sentimento que a enraizar-se impedirá a SADC de se integrar como se apregoa?
Guebuza não pode dizer uma coisa aos mineiros e depois calar-se relativamente ao Zimbabawe. Não estará Mugabe a querer destruir a SADC. Por que espera então Guebuza para o condenar?
Mais grave ainda: Será que Armando Guebuza está a preparar-se para nos fazer o mesmo depois das eleições gerais e provinciais do próximo ano.
Não nos podemos esquecer da história recente de Armando Guebuza. Ele já tem o seu nome inscrito nos anais da História que se escreveu quando os opositores do regime totalitário imposto pelo seu partido foram fuzilados e enterrados em muitas valas comuns espalhadas por vários ditos campos de reeducação que nunca foram outra coisa mais, para além de campos de extermínio de opositores.
O que Robert Mugabe está a fazer hoje ao povo do Zimbabwe é semelhante. É um crime.
Qualquer regime que seja solidário com criminosos só pode ter apetências criminosas. Quem apoia o regime criminoso do Zimbabwe obriga-nos a suspeitar da sua idoneidade.
Admitimos que o Acordo Geral de Paz em Moçambique selou o baú das poucas vergonhas em Moçambique.
Queremos acreditar que este Guebuza de hoje, deve estar muito arrependido do que fez quando foi ministro do Interior e mandou para campos de morte centenas de milhar de moçambicanos. Até está a decorrer contra ele um processo na Comissão dos Direitos Humanos da União Africana…
Admitimos, no entanto, que se queira redimir do seu passado vergonhoso como timoneiro de um ministério que regou de sangue de inocentes e patriotas, o solo pátrio, se bem que tenha para tanto usufruído da solidariedade de outros déspotas que na altura se mostravam tão intransigentes quanto hoje Robert Mugabe.
Não é nosso propósito desenterrar factos que ainda estão muito frescos na nossa memória. Mas não nos podemos esquecer que Mugabe já foi um menino querido…
Não queremos ajudar a incendiar a África Austral como está a fazer Mugabe. Mas o presidente Armando Guebuza também não pode continuar surdo e mudo.
As vozes desesperadas dos zimbabweanos ressoam em Moçambique e em toda a África Austral.
Os moçambicanos da região centro e os que vivem junto das fronteiras em Pafuri e Chicualacuala são os que mais sofrem com a situação no Zimbabwe pelo que a preocupação de Guebuza deveria quanto antes ser outra. Tudo deveria fazer para que o mais rapidamente possível se resolva o problema daquele país. Nada faz! O tempo vai passando. Os zimbabweanos vão morrendo e os moçambicanos aguardam pela tal integração da SADC.
Guebuza dá indicação que está mais preocupado com as suas relações pessoais com Mugabe do que com Moçambique. Não pode ser!
Ninguém pode ignorar o que se está a passar no Zimbabawe.
Sugerimos que o Senhor Presidente da República não continue calado e mude urgentemente de atitude. Vai ao Parlamento esta semana. Veremos o que vai dizer do Zimbabwe.
Pedimos-lhe uma tomada de posição inequívoca. Diga claramente se está ao lado ou está contra Mugabe e o seu regime. Isso não é ingerência nos assuntos internos do Zimbabwe. São questões de Moçambique. Queremos saber se o presidente é do mesmo calibre de Mugabe ou se é diferente.
O opressor dos zimbabweanos hoje é zimbabweano.
Quem está a matar o povo zimbabweano não são os colonialistas. São os fascistas zimbabweanos. O Hitler do Zimbabwe. Outro Taylor. Outro Bocassa.
A Europa e o mundo souberam condenar Hitler. África tem de saber condenar os seus mugabes.
Se o chefe de Estado Armando Guebuza quiser continuar calado e solidário com Mugabe e o seu regime, só nos restará pedir aos moçambicanos que abram os olhos e se cuidem. Correm o risco de se prepararem para reeleger em 2009 um cidadão com pretensões semelhantes às de Robert Mugabe.
História de vida a sugerir que é capaz do mesmo que Mugabe está a fazer e até de muito mais, não falta a Guebuza. “Não vamos esquecer o tempo que passou”, recomendava Samora Machel.
Faltará juízo aos moçambicanos se reelegerem um homem com perfil de vir a ser um novo Mugabe.
Veremos como daqui em diante o Presidente que se diz de todos os moçambicanos vai continuar a tratar a questão do regime de Mugabe.
A nossa solidariedade nos momentos difíceis da luta por direitos iguais no Zimbabwe, quando o regime rhodesiano de Ian Smith se mostrou adverso a respeitar a maioria esmagadora dos zimbabweanos, esteve com o Povo do Zimbabwe. Hoje continuamos ao lado dos zimbabweanos. Ian Smith soube redimir-se dos seus erros. Chegou ao ponto de desafiar Mugabe. Nos últimos anos da sua vida e quando Mugabe já se preparava para fazer das suas, Smith chegou a desfiá-lo a irem os dois para a rua, sem guarda-costas, para se poder ver quem é que o povo matava primeiro. Até Smith já se sentia mais querido dos zimbabweanos do que Mugabe…
Magabe hoje até já diz que o Zimbabwe lhe pertence. “O Zimbabwe é meu”.
Os outros milhões de zimbabaweanos não têm direitos? – Claro que sim. Por isso não podemos estar calados. Nem podemos aceitar o silêncio e atitude do Governo de Moçambique imposto por um presidente que está até em fim de mandato e precisa de respeitar a vontade de um povo que já sentiu na pele em grande escala o que o povo zimbabweano está hoje a sentir. Estejamos atentos. Em 2009 há eleições presidenciais e gerais. Veremos o que quer Guebuza e a Frelimo.
(Canal de Moçambique/Zambeze) - 24.12.2008