Os criminosos voltaram uma vez mais a tomar conta da nossa sociedade, remetendo o poder legalmente constituído à defensiva.
São vários os episódios que atestam para esta constatação, a começar pelo violento atentado, na última Terça-Feira, perpetrado contra o comandante da lei e ordem da cidade de Maputo, Feliciano Juvane, quando este se preparava para entrar para a sua casa. Juvane viria a morrer na Quarta-Feira, em consequência dos graves ferimentos que contraiu.
Antes os bandidos haviam assaltado, pela segunda vez este ano, uma esquadra da polícia na Matola, antes de atirarem mortalmente contra um agente da polícia que se encontrava de guarda.
Tudo isto acontece pouco mais de uma semana depois da saída triunfal de três criminosos perigosos que se encontravam sob guarda da polícia, no comando da cidade.
O direccionamento destas acções banditescas contra agentes da polícia deve ser entendido como uma situação de declaração de guerra contra o Estado, contra a qual este deveria responder com todos os meios que tiver ao seu alcance.
O actual clima de insegurança que se vive, particularmente em Maputo e na Matola exige do governo uma acção enérgica, a qual deve incluir a instituição de procedimentos disciplinares e criminais contra indivíduos infiltrados na corporação, e que servem de auxiliares aos bandos de criminosos que andam aí à solta.
Chegámos a este estado de coisas porque ao longo de muito tempo fomos permitindo uma relação umbilical entre criminosos e as pessoas que supostamente são pagas pelas nossas contribuições para os combater. Deixámos de incomodar os bandidos, permitindo, por essa via, que sejam eles a incomodar-nos, em alguns casos tirando a vida de pessoas inocentes, incluindo agentes das forças de defesa e segurança.
A situação em que vivemos já está a ultrapassar os limites do tolerável, não sendo descartável a possibilidade de uma rede de criminosos perigosos actuando dentro da própria polícia.
Não se pode chegar a nenhuma outra conclusão quando somos confrontados com uma situação em que de tantos crimes a que temos estado a testemunhar, em nenhuma circunstância as investigações terão conduzido a uma fase conclusiva, em que os criminosos são levados à barra do tribunal e castigados pelos seus actos.
Não podemos chegar a qualquer outra conclusão quando prisioneiros saem com regularidade da cadeia, como se estivessem a sair da vedação de uma escola rural. Certamente que alguém patrocina essas fugas, e certamente também que não deve ser uma pessoa muito longe da própria corporação.
É por isso que para se encontrar o coração da questão, as investigações sobre as recentes fugas, e mesmo sobre os recentes ataques contra agentes da polícia devem ir muito para além de simples guardas sem capacidade de contrariar ordens recebidas de seus superiores hierárquicos.
Com as coisas como estão será difícil o Presidente da República dizer ao Parlamento e à nação no dia 24, que estamos bem. Certamente que não estamos, mas somos incapazes de virar as coisas. Basta vasculhar um pouco nos gabinetes. É lá onde se escondem alguns dos nossos inimigos.
SAVANA - 19.12.2008