Concentração dos meios de
produção, orientação do mercado para exportação e o consumo de luxo, atuação
oligopolizadora do Estado, mentalidade senhorial das classes altas: esses
quatro fatores estão na raiz dos abismos sociais e regionais. Mas há sinais
promissores de mudanças.
Por Tânia Bacelar*
O Brasil aparece no cenário internacional como um exemplo de país capaz de
realizar grandes avanços econômicos - colocando-se entre as mais importantes
bases produtivas do mundo em desenvolvimento - sem deixar de ser uma sociedade
fraturada, marcada por enormes diferenças de padrões de vida e de oportunidades
entre seus habitantes. Ao mesmo tempo, esse país continental e magnificamente
diversificado exibe acentuadas desigualdades entre suas regiões, expondo hiatos
inaceitáveis.
Esse perfil foi-se estruturando ao longo de séculos e se exacerbou quando, no
século XX, o país se urbanizou e industrializou de forma acelerada. Por quê? -
devemos nos perguntar. Parecem existir algumas causas fundamentais..
Para explicar a produção (e reprodução) das desigualdades sociais, quatro
causas merecem destaque. Primeiro, esse quadro tem a ver com a forma como a
população do Brasil tem acesso aos meios de produção. A concentração da riqueza
e a dificuldade de acesso aos meios de produção são traços históricos na
formação brasileira. A terra, ativo fortemente concentrado em mãos de poucos, é
um meio de produção importante em um país que se apresenta ainda hoje como uma
das potências agroindustriais do planeta e promete ser, no futuro próximo, um
dos lideres mundiais da produção de energia com base na biomassa.
Passando da agricultura para a indústria, verifica-se que o perfil de acesso
aos meios de produção necessários à atividade industrial também é muito
concentrado. O Brasil está entre os países onde o padrão oligopolizado no setor
secundário é dos mais fortes. Dos bens mais simples aos mais complexos, o
perfil produtivo brasileiro tem a marca da concentração. um intenso processo de
oligopolização predominou na maioria dos setores industriais, e a ampliação
recente do grau de desnacionalização só fortaleceu esse traço. Se a forma de
organizar a producão é essa, a apropriação da renda gerada pela atividade
industrial só pode ser concentrada.
Leia em:
Download A máquina da desigualdade
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