NÃO é fácil discutir o Zimbabwe. Essa dificuldade não se prende apenas à própria natureza bicuda do assunto. Ela prende-se também ao facto de que o assunto polariza e conduz os intervenientes na discussão aos extremos. Talvez não fosse mau reflectir sobre esta polarização, pois em certa medida ela impede uma abordagem útil de um problema que precisa de ser ultrapassado. O meu palpite é de que é difícil discutir o problema do Zimbabwe porque são privilegiadas duas abordagens que me parecem incompatíveis entre si. E não só. Uma dessas abordagens já provou ser não só parte da solução, como também parte do problema. Para simplificar as coisas chamemos às duas abordagens de normativa e analítica.
Maputo, Terça-Feira, 16 de Dezembro de 2008Notícias
A defesa de uma ou outra abordagem é, em princípio, legítima. Isso está, portanto, fora de questão. O que interessa saber, contudo, é se uma ou outra são úteis ou não para uma reflexão produtiva do caso zimbabweano. Por abordagem normativa podemos entender duas coisas. Uma é a tendência de procurar saber o que fazer perante a situação. Isto é patente na insistência em articular a solução do problema ao afastamento de Robert Mugabe do poder. Essa é a resposta para a questão de saber o que fazer no Zimbabwe. Afastar Mugabe, o tirano, como se diz. A outra coisa que podemos entender por abordagem normativa é a preferência por uma discussão que faz apelos morais como base de avaliação da plausibilidade do que se diz sobre o assunto.
Esta dimensão manifesta-se de várias maneiras, todas elas ligadas a problemas lógicos de argumentação que precisariam de mais espaço para serem expostos com cuidado. De momento, podemos reter o tipo de linguagem que é privilegiado, isto é, uma linguagem bastante emotiva, uma tendência de estabelecer relações de causalidade bastante problemáticas, bem como os ataques às pessoas que dizem coisas diferentes do que é defendido pela abordagem normativa. Tudo isto é feito no sentido de descrever o problema de maneira a que não sejam razões fundamentadas que contam para se perceber o problema, mas sim emoções. Talvez seja importante destacar aqui que a abordagem normativa não se limita apenas aos que defendem que Mugabe deve sair do poder como condição de resolução do problema; mesmo aqueles que defendem que tudo é conspiração de brancos contra pretos resvalam por aí. Interessam-me, contudo, os outros, porque são eles que tornam difícil uma intervenção menos normativa.
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