Canal de Opinião, por Jorge Olivera Castillo (*)
Fui para Angola como um cão, trouxeram-me como um cão e continuam a tratar-me como a um cão
Angola foi um destino de calvário. As noites intensamente frias. Os
amanheceres como preâmbulo de calores que convertiam a atmosfera num
forno. O sono perturbado pelo cochicho dos ratos. As cobras vadiando
pelos arredores a qualquer hora. Era uma grande conspiração contra o
sistema nervoso. Temia-se pela vida e por aquela soma de hostilidades
que deixava um vazio interno. Um vácuo de incertezas que bloqueava o
acesso à razão.
Reflexões de um "Cão"
A esperança de regressar a Cuba são e salvo flutuava, com torpeza, na
imaginação. Não havia garantia de consegui-lo. Bastava uma bala
inimiga, uma rajada de metralhadora, uma morteirada desintegradora.
Sobravam medos para deixar em suspenso a alegria de voltar ao seio da
família, sentir o abraço da mãe, brindar com os amigos, pisar o asfalto
para se esquecer do mato e os depredadores da selva.
A guerra arredando as suas cortinas para exibir o seu drama, os seus
sobressaltos, a agonia dos moribundos, a passagem do bom senso e a
demência.
Vários companheiros regressaram loucos, não puderam resistir ao peso
das tensões, isso me disse Braulio do seu assento de condutor de um
bici-Taxi. Sua copiosamente depois de acabar uma das suas extenuantes
viagens. Nas suas pernas está o sustento da sua esposa e filhos. É a
única opção num ambiente com outras crispações. "Este agora é o meu
campo de batalha", assegurou-me com certo ar de resignação.
"Aqui não vou a morrer de uma "chumbada" no coração, mas entre a
pedalada pelas ruas desniveladas, o clima dos trópicos, a perseguição
da polícia e a dor que sinto pelo abandono das autoridades depois que
expus a minha vida em Angola, é lógico que pense noutro tipo de morte".
Um cancro na próstata, um enfarte, uma depressão nervosa como prévio
escalão para a loucura. Isso significa o atribulado veterano como parte
da sorte que poderia ocorrer nos próximos meses.
Com 18 anos fui enviado para esse país africano. Era uma missão a que
não podia renunciar por causa da Lei do Serviço Militar Obrigatório
imposta pelo governo actual a partir da década de 60 do século XX.
Leia em:
http://www.canalmoz.com/default.jsp?file=ver_artigo&nivel=1&id=6&idRec=4842