A proibição do uso de fogo a carvão no Chade está a complicar a vida de muitas pessoas, já afectadas pela actual subida dos preços dos alimentos.
Muitas famílias vêm-se obrigadas a queimar mobílias, estrume, lixo e raízes de plantas para lume.
Desde que a proibição do uso de carvão entrou em vigor é praticamente impossível encontrar carvão à venda no Chade. A justificação oficial avançada pelas autoridades foi a defesa do ambiente.
"Eu tenho estado a usar produtos que eu próprio colhi, como os frutos das palmeiras", disse à BBC Nangali Helene, que vive na capital N'Djamena.
"O problema é que isto está a deixar-nos doentes. Estes produtos não são bons para queimar, provocam um fumo horrível e deixam um mau cheiro. Ontem à noite começámos a queimar vigas do telhado do nosso anexo", acrescentou.
Como consequência da proibição do carvão, um pequeno molho de lenha disparou de apenas algumas centenas de francos CFA para cerca de 5,000, o equivalente a 12 dólares norte-americanos.
Desertificação
"Queremos que todas as manhãs a população batesse com os seus talheres nos tachos vazios, sem comida, para prestar solidariedade uns aos outros", apelou Saleh Kebzabo, da Coligação de Partidos para a Defesa da Constituição.
Manifestações de rua estão, para já, fora de questão. Na semana passada um comício organizado por um grupo de mulheres foi cancelado depois das autoridades terem recusado dar a autorização necessária para a sua realização.
As poucas mulheres que compareceram no protesto alegam terem sido vítimas de intimidação por parte da forte presença policial no local.
O governo justificou a proibição do carvão como uma resposta à "urgente ameaça" de desertificação no Chade, que se estende pelo Sahel, a região semi-árida que faz fronteira com o deserto do Sahara.
Posicionando-se na vanguarda da protecção ambiental, o Ministério do Ambiente chadiano diz que mais de 60 por cento da cobertura vegetal natural do país foi destruída pela população à procura de lenha para carvão.
"O povo chadiano tem de reconhecer este problema", afirmou o ministro do ambiente Ali Souleiman Dabye.
"Se não agirmos rapidamente, um destes dias quando acordarmos não há-de haver uma árvore de pé. E depois o que é que as pessoas vão queimar para lenha?", questionou o ministro.
Falta de realismo
Só que apesar de muitos reconhecerem a necessidade de proteger o ambiente, o descontentamento advém em especial da rapidez com que a proibição entrou em vigor.
No final do ano passado a polícia começou a confiscar camiões com carvão, dizendo que estavam a operar ilegalmente.
Vários veículos e as suas cargas acabaram por ser queimados nos arredores de N'Djamena, mas o governo nega responsabilidade pela sua destruição.
Poucas semanas depois o preço do carvão disparou nos mercados, antes de eventualmente desaparecer por completo.
Entretanto as alternativas oferecidas pelo governo parecem ser pouco realistas para o comum cidadão.
"Foi só na última década que os chadianos se tornaram dependentes do carvão, e como tal rapidamente se irão adaptar a novas técnicas", explicou o ministro do ambiente, em defesa da utilização do gás como substituto do carvão.
Mas no Chade 65% da população não tem acesso a equipamentos a gás, e aqueles que o têm vêm-se obrigados a viajar para os Camarões para comprarem as garrafas daquele combustível.
Recentemente a imprensa local publicou histórias com rumores de mulheres que acidentalmente pegaram fogo a si próprias por falta de conhecimentos na utilização de equipamentos a gás.
Recentemente o governo chadiano assinou um acordo com um empresário nigeriano para a promoção dos equipamentos a gás no país. Mas Marie Larlem, coordenadora da Associação Chadiana para a Promoção de Liberdades Fundamentais, a medida é insuficiente.
"Nós compreendemos a necessidade de proteger o ambiente, mas achamos muito estranho a tomada de medidas desta forma brutal e abrupta, porque ninguém foi avisado", disse.
"Porque é que não decidiram isto há mais tempo? O nosso povo já sofreu demais", rematou Marie Marlem.
Não obstante, o governo do Chade insiste que não há planos para aliviar a proibição do carvão.
BBC- 29.01.2009