PELO menos 91 pessoas morreram em Madagáscar desde segunda-feira durante motins e pilhagens ligados às manifestações convocadas pelo presidente da câmara da capital contra o regime, noticiou ontem o jornal "La Verite", da capital Antananarivo, acrescentando que os feridos são aproximadamente 48.
O jornal informou ainda que a Polícia prendeu 92 pessoas em todo o país por participar nos actos violentos relacionados com os protestos, que começaram na segunda-feira após uma manifestação liderada pelo presidente do Conselho Municipal de Antananarivo, Andry Rajoelina, e que culminou com o incêndio do edifício da emissora estatal de rádio e televisão. Dezenas de lojas e prédios públicos também foram incendiados e saqueados. Trinta e dois corpos carbonizados foram retirados de um armazém, ao qual vândalos atearam fogo, no bairro de Analaqueli.
Ontem a cidade de Antananarivo, a capital malgaxe, amanheceu quase deserta, após uma convocação do edil Rajoelina para uma greve geral "pacífica" contra o Governo. Na quarta-feira, a capital amanhecera sob toque de recolher, decretado pelo Governo.
Os distúrbios começaram na segunda-feira, após uma manifestação liderada por Rajoelina para exigir a libertação de três estudantes, que culminou com o incêndio criminoso do prédio da emissora estatal de rádio e televisão pública.
Em seguida, os protestos generalizaram-se e tiros atribuídos à Polícia causaram as duas primeiras mortes, após as quais os manifestantes quebraram escritórios e lojas no centro da cidade e queimaram as sedes de várias empresas, algumas relacionadas com o Presidente Ravalomanana.
O edil da capital defendeu abertamente um golpe de Estado nesta ilha africana. Ele acusa o Presidente Marc Ravalomanana de "desviar recursos públicos" e de "ameaçar a democracia", e pediu o "apoio militar" para dirigir um "governo de transição".
Por seu turno, o Presidente Ravalomanana acusa o presidente da Câmara (oposição) de ser o instigador dos distúrbios. Os dois homens mantêm relações tensas desde a eleição do presidente da Câmara, em Dezembro de 2007, como candidato independente.
O braço-de-ferro endureceu desde que o Governo encerrou a 13 de Dezembro de 2008 a televisão privada de Andry Rajoelina, "Viva", que divulgara uma entrevista do ex-presidente no exílio, Didier Ratsiraka.
"TGV", como é conhecido o presidente da Câmara em Madagáscar, critica também a ausência de liberdade de expressão e de democracia na Grande Ilha e a " espoliação " das terras malgaxes num colossal projecto agrícola liderado pelo grupo sul-coreano Daewoo.