Por O Régulo da Cabeça do Velho*
Primeira Lição
Quando Obama foi proclamado vencedor interno pelo Partido Democrata, para concorrer como seu candidato às presidenciais, falou longamente sobre a rival interna naquela corrida. Hillary Clinton, actualmente nomeada secretária de Estado Norte-Americana no Gabinete de Obama, uma espécie ou simbiose entre Ministra dos Negócios Estrangeiros e Primeira-Ministra.
Depois Obama, na sua viagem triunfal, venceu (e não trucidou como os Moçambicanos com mentes belicistas gostam de escrever) o Senador John McCain nas eleições presidenciais. No seu discurso também agradeceu ao seu adversário político e respectiva vice, a governadora Palin. Falou sobretudo de McCain em tom conciliador, do seu papel histórico como filho da grande nação Americana, na frente de combate no Vietname, no Senado, como um herói e patriota. Finalmente, no discurso da tomada de posse como Presidente dos EUA, Obama também falou de George W. Bush, da sua perseverança e ousadia, para o bem da nação Americana. Foi a lição de consideração para com os adversários políticos. A serem tratados com respeito e dignidade; não como uns antipatriotas, lacaios, vendidos, ao serviço de forças exteriores, com interesses estranhos e contra a sobrevivência e integridade territorial da nação comum a todos. Os adversários políticos são como Maxaquene e Desportivo em “derby” do ano. A existência dos dois é que apimenta o espectáculo. A ausência de um torna o espectáculo sensaborão, indigno de assistir.
O mesmo que sair de casa num Domingo à tarde, vestido às cores do seu clube favorito, para ir assistir a uma “falta de comparência” anunciada, para depois celebrar com pompa e circunstância ao cair da noite e/ou dias que se seguem (!?)
Segunda Lição
Fazia muitos anos que não me prostrava diante da televisão para escutar um discurso político; e fi-lo ontem, dia da investidura do Presidente dos EUA, com inusitado interesse. Surpreendeu-me tal gesto, a mim mesmo. Se a crença (falsa) é de que os políticos são uma classe de hipócritas, cínicos, mentirosos, fanfarrões, como estava então aí a escutar o discurso dum dos seus membros, esperançoso e crente no que houvia? A América é mesmo uma grande nação e potência mundial. Se 2 milhões de almas assistiam à investidura, crentes e esperançosas, por que não acreditar naquele “pedigri” político, raro, que tomava juramento para os servir, e não só? Ora as outras cinco nações poderosas do mundo nunca despertaram muito interesse em geral, para além das suas fronteiras territoriais. Falo da Inglaterra, da China, da Rússia, do Japão e da Alemanha. Alguém se lembra da tomada de posse, da transição e do discurso do último líder empossado nestes países e os respectivos nomes? Isso para não mencionar a situação “aqui” pertinho, do outro lado do muro, desde o Egipto, passando pelo Senegal, até à África do Sul. Obama no seu discurso, quando foi declarado vencedor das eleições disse, “ If there is anyone out there who still doubts that America is a place where all things are possible, (...) who still questions the power of our democracy, tonight is your answer”.
Terceira Lição
A passagem do testemunho foi sinceramente uma grande lição de civilização. Bush e Obama de mãos dadas, Bush pai e filho, Clinton, Carter, McCain, etc. com lugares cativos na “mesa” de honra. Estado Americano na dianteira da organização da cerimónia da tomada de posse. Segurança do Estado à frente.
Polícias bem identificados. Outros da “secreta” não tanto (claro), mas sem armas metralhadoras a tiracolo. Nenhum espectáculo gratuito de cacetadas e/ou chambocadas por parte de “cinzentinhos” sobre a população em dia festivo. Vimos, assistimos, imagens televisionadas, para todo o mundo, o antecessor e o actual inquilino da Casa Branca, em cavaqueira, posarem com as respectivas esposas para uma foto, para a posteridade. Vimos, não é mentira não, o Bush e esposa a serem acompanhados pelo Obama e esposa, até à porta do helicóptero, para a despedida. O destino de Bush e esposa era o seu “ranch” (“quinta” ou “machamba”, sei lá como se chama em Moçambique) privado e não com destino a “outra casa do estado”, para continuar a sugar esse mesmo estado, que serviu como presidente pelo limite máximo de dois mandatos, conforme reza a consitutição, a qual jurou servir, defender e preservar, quando foi eleito. O helicóptero, a julgar pelas cores verde militar e branco, pertença do Estado Americano, não era privado pertença do G. W. Bush. Era coisa de Estado, colocado à sua disposição como símbolo (ainda) da nação, merecedor de todo o respeito e honras de um chefe de Estado. Vimos, não é mentira, o vice-presidente de G.W. Bush, Dick Cheney, a sair das cerimónias da tomada de posse de Obama, transportado numa cadeira de rodas, devido ao seu estado de saúde débil, até à sua viatura preta luxuosa e despedir-se daquela multidão toda. Vimos, não é mentira não, um artista (poetisa) com lugar à sombra e direito à palavra, na tomada de posse do Presidente da República. E até houve tempo para oração e... risos, muitos abraços, alegria e sobretudo muita celebração na passagem do testemunho. Humilhação, isso não vimos. Estariamos a mentir se dissessemos que vimos. Talvez no terreno ou nas “bases”, tal ocorreu. Na televisão, não vimos bandeiras dum partido político serem levantadas, em sinal de vitória. Também não vimos bandeiras dum outro partido político serem levantadas em protesto, desforra ou de resistência, em sinal de demonstração de força por ter sido “roubado” votos na boca das urnas ou manipulados a posterior. Vimos, não estamos a mentir, bandeiras dos EUA flutuarem por tudo que era canto. E queremos acreditar que as cerca de 2 milhões de almas que assistiram às cerimónias de tomada de posse de Obama e não só, muitas eram de partidos diferentes e muitas depositaram o seu voto no candidato derrotado. Mas o dia 20 de Janeiro de 2009, para a história e para a América, era mesmo o dia do Presidente eleito Barack Usseine Obama, Presidente dos EUA!
P.S. Cá entre nós, escutei algumas entrevistas de gente da nossa “selva política” pronunciar-se sobre a tomada de posse de Obama. Lições aprendidas? nicles! um disse que Obama ia ajudar África; outro disse, foi profetizado (por um tal profeta muçulmano, disse o nome que não retive) que Negro seria centro das atenções no mundo um dia; outro disse, “sou o Barack Obama de Moçambique, impus a democracia, acabei com guias de marcha”, blá, blá, blá; outro disse o Obama é Presidente dos EUA e não de África... acho que somos selvagens pelo local de nascimento, crescimento e vivência e não pela pigmentação da nossa pele, que o diga o Obama!
* Um sociólogo da praça bem identificado
SAVANA - 23.01.2009