Nós também podemos!
Barack Obama inaugurou uma nova era de relações com povos de todo o Mundo. Prometeu isso quando tomou posse como Novo presidente dos Estados Unidos esta terça-feira. Entre vários desafios a que se propôs e que propôs aos seus concidadãos, desafiou os americanos a enfrentar a grave crise económica que assola o país. São avisos também para nós deste país em que os dirigentes nos habituaram a crer em soluções vindas de fora para depois se apregoarem obreiros das obras conseguidas essencialmente com o suor dos outros. A esperança nos Estados Unidos foi renovada. Com a aposta num jovem, com novas ideias e uma nova forma de estar na política acabou-se por conseguir um movimento que cativou os americanos que já estavam desesperados e sem esperança. Valeu a pena. Esta já é a primeira semana de tempos novos na América.
O mesmo projecto se experimentado entre nós pode ser que dê certo.
Na América dependeu dos eleitores. Aqui entre nós também poderá ser esse o caso de os moçambicanos quiserem e disserem também: “Sim nós podemos!”
Muito poucos andam felizes entre nós. Porque não tentar coisa nova?
Na cerimónia que contou com a presença de milhões de pessoas que enchiam a alameda defronte do Capitólio, a sede do poder legislativo norte-americano, no seu discurso inaugural, o presidente Barack Obama lembrou aos americanos que os desafios são “reais, graves e de grandes proporções”. e “não seriam enfrentados facilmente ou num curto espaço de tempo”.
Obama reconheceu que a economia dos Estados Unidos encontra-se deveras enfraquecida, atribuindo isso à “ganância e irresponsabilidade da parte de alguns”. Não atirou as culpas aos outros. Disse claramente que chegaram a onde chegaram “por não termos, todos nós feito, as escolhas difíceis e preparado a nação para uma nova era.”
Obama lembrou “aqueles que permanecem agarrados ao poder por meio da corrupção e da fraude e do silenciar de dissidências” que “saibam que estão do lado errado da história”.
E é aqui precisamente que somos catapultados para dentro de nós. Essas dificuldades vão reflectir-se por todo o lado e Moçambique não vai escapar.
Entre nós, os sucessos apregoados por quem tem vindo a fazer juízos em causa própria, não correspondem à realidade. Os números mostram o que não se consegue ver na realidade. A realidade é bem diferente. A esmagadora maioria das pessoas viviam mal e continuam a viver mal. São poucos os que melhoraram realmente as suas vidas. O que muitos aparentam é dívida à banca. E cada vez tem mais e maiores dificuldades. O ambiente social e a nossa segurança interna está a degradar-se de dia para dia e o clima de terror que nos rodeia prova-o inequivocamente. Só vive bem quem trabalha muito mas entre nós, sobretudo vive bem quem anda muito pendurado nos outros e a tirar benefícios pessoais dos cargos públicos que ao exercerem deveriam antes proporcionar aos outros melhores condições de vida, mas não, só os beneficia a eles…
A FORÇA DA MUDANÇA deu nisto. Um autêntico descalabro. Tratou-se de uma falsa promessa do “Messias”. As réstias de esperança esgotaram-se. A própria Oposição foi falindo e agora estoirou.
Para onde vamos sem termos entre portas as bases adequadas e sem que dos tradicionais doadores nos cheguem sinais de ajuda?
Estamos em ano de eleições. Temos de ser nós próprios a escolher uma nova direcção.
Não serão seguramente as eleições que nos vão trazer a felicidade, mas serão seguramente as eleições, o voto, o instrumento ideal para pormos os freios em quem deixou de ter limites para a sua arrogância e obsessão por ser dono e senhor de tudo o que nos rodeia.
“Aqueles que permanecem agarrados ao poder por meio da corrupção e da fraude e do silenciar de dissidências, saibam que estão do lado errado da história”, lembrou Barack Obama.
Tentámos ver alguém parecido com ele a apregoar o mesmo entre nós. Obviamente que não encontrámos àquele nível quem possa servir-se das mesmas palavras para voltar a convencer os moçambicanos. Por muito que tente, por muito que à última hora se ensaie, não tarda apercebermo-nos que tudo não passou de fogo de vista, de uma grande ilusão. Diríamos que temos vindo de esperança em esperança até esta grande desilusão.
A partir de agora, disse Obama aos americanos, “devemo-nos erguer, sacudir a poeira que transportamos em nós e iniciar de novo o trabalho de reconstruir a América.”
Nós também devemos reflectir sobre o que devemos fazer em Moçambique. Seguramente
O novo presidente norte-americano transmitiu a todo o Mundo a mensagem de que os Estados Unidos pretendem regressar aos princípios que nortearam os fundadores da nação americana: “a garantia de um Estado de Direito e de respeito pelos Direitos Humanos”, ideais que o seu governo “não renunciará por uma questão de expediente”, ao contrário da Administração Bush que nos últimos oito anos traçou das mais negras páginas da história dos Estados Unidos, invadindo e ocupando países soberanos sob falsos pretextos, subvertendo o poder judicial, pilar da mais poderosa democracia do planeta, e pondo em perigo as relações entre nações soberanas.
Tudo isto na boca de um chefe de Estado de um país com políticos “fossilizados”, era impensável. Mas foi possível.
A ascensão de Barack Obama foi construída. Poucos meses antes das primárias no seu partido era um quase desconhecido. Apenas o conheciam como senador de um dos estados como se fora uma das nossas províncias. De um momento para o outro, em eleições internas a que concorreu a competir com quem tinha absoluta visibilidade, provou que quem for capaz de devolver a esperança a um povo nos momentos mais críticos, tem oportunidade de vencer.
Num dos momentos mais difíceis da história dos Estados Unidos desde a crise de 1929, Obama acabou sendo levado aos ombros pelos membros e simpatizantes do seu partido onde as convenções internas são respeitadas.
No caso americano não foi preciso criar-se uma nova organização política para levar o novo “Messias” à Casa Branca. Ninguém se preocupou de onde ele é originário, nem de que estado é. O povo americano só quis saber para onde o americano Barack Obama o quer levar. Acreditou no projecto de mudança efectiva e não cosmética. E assim Obama é o 44.º Presidente do país.
Se perguntassem aos tradicionais líderes do país se Obama tinha condições para ser o que é hoje, ouvir-se-iam logo as tretas do costume. Mas o povo virou as costas à conversa fiada e de sempre. Tentou e venceu. Obama já é presidente da América.
O caso Obama pode servir de referência para nós, desde que saibamos olhar para o futuro com olhos livres e sem as mãos algemadas. O passado passou e os que passaram já não tem ideias para o futuro. O mundo mudou. Os tempos são outros.
Se formos capazes de perceber que estamos a necessitar de descontinuidade o mais depressa possível; se formos capazes de entender que se impõe uma mudança urgente da geração do poder, talvez entre nós possamos ainda este ano retomar a esperança e iniciarmos o ano que vem com novas perspectivas e com motivos suficientes para celebrarmos algo novo em que saibamos apostar. Devemos. Nós também podemos!
ZAMBEZE - 22.01.2009