O CONGRESSO Nacional Africano (ANC) encontra-se a braços com mais um escândalo de corrupção, desta vez envolvendo o seu porta-voz, Carl Niehaus. Este último incidente, despoletado na semana passada, coloca em causa a credibilidade e seriedade do partido no poder no combate àquele mal, numa fase em que se avizinham as eleições gerais agendadas para 22 de Abril próximo.
Niehaus reconheceu ter forjado os nomes de vários membros seniores do ANC numa série de cartas para tentar conseguir empréstimos de empresas, singulares e bancos.
Justificando os seus actos, Niehaus disse que estava a levar um estilo de vida superior aos seus rendimentos, razão por que estava a tentar mobilizar empréstimos para se livrar da sua situação precária.
Este é um novo escândalo que se abate sobre o ANC. O próprio presidente do partido governamental, Jacob Zuma, enfrenta várias acusações de fraude, lavagem de dinheiro, associação criminosa, entre outras, relacionadas com uma aquisição de armas para equipar o Exército sul-africano nos finais da década 90.
Niehaus, antigo diplomata e deputado do ANC no Parlamento, foi demitido das suas funções quando a sua situação foi exposta ao público na semana passada.
As manchetes dos jornais sul-africanos ostentavam títulos tais como “mais sujeira”, “habituais mentiras”, “ANC apunhalado pelas costas”, entre outros.
Um colunista de um jornal chegou mesmo a questionar se Niehaus teria uma definição “clara daquilo que está certo e errado”.
O ANC caracterizou o seu porta-voz como sendo uma pessoa sofrida e marcada pelo passado e, por isso, “haveria de encontrar um papel alternativo” para Niehaus.
“O ANC deseja afirmar que independentemente das suas dificuldades pessoais, Niehaus continua a ser um quadro leal e valorizado do nosso movimento”, disse o secretário-geral do partido Gwede Mantashe, na sexta-feira.
“Vamos continuar do seu lado e apoiá-lo nesta fase difícil”, disse Mantashe.
Niehaus conquistou a simpatia dos membros do ANC durante a década 80, quando foi rotulado de traidor pelo regime do “apartheid”, tendo passado sete anos e seis meses na prisão, após ter colocado uma carta-bomba no exterior do edifício de recrutamento do Exército sul-africano.
Desde a sua libertação em 1991, Niehaus já assumiu várias funções de relevo no seio do ANC. Ajudou a conceber a defesa das relações públicas de Zuma, durante o seu julgamento por corrupção e de violação de uma mulher, tendo sido ilibado deste último.
Zuma, que se considera inocente, é descrito como sendo um herói da luta contra o regime do “apartheid”, extinto em 1994.
Comentando sobre o assunto, Frans Cronje, um investigador do Instituto Sul-Africano para Relações Raciais, uma instituição independente, disse segunda-feira estar preocupado pelo facto de o ANC estar a destruir-se a si próprio por causa da corrupção.