MARCO DO CORREIO
Por Machado da Graça
Olá José António
Meu bom amigo, lembras-te da carta que te mandei, há poucos dias, falando das dificuldades que previa para o novo Governo do Zimbabué?
Pois tenho que reconhecer que o Mugabe é, de facto, alguém em quem podemos confiar absolutamente: a gente prevê que ele vai fazer porcaria e ele esforça-se por confirmar esta previsão no mais curto espaço de tempo.
Senão vejamos:
Depois de terem combinado tudo o que tinham a combinar, foi marcada a cerimónia de tomada de posse dos novos ministros. Só que, quando lá chegaram, descobriram que a lista da ZANU-FP era maior do que o que tinha ficado combinado.
Tinha ministros de que o Primeiro-Ministro, Morgan Tsvangirai, nunca tinha ouvido falar.
Armou-se uma enorme confusão, com o Presidente Motlanthe, da África do Sul, a tentar uma solução de última hora.
Marcou-se nova data para a posse dos ministros que não foram empossados nessa primeira cerimónia. Provavelmente houve mais negociações nos bastidores e a nova cerimónia realizou-se.
Só que o número de membros do Governo subiu para 61.
E enquanto na listagem anterior os ministros das duas facções do MDC somados eram mais do que os ministros da ZANU-FP, agora acontece o contrário. A ZANU-FP passou a ter 21 ministros e os dois MDC juntos 20.
Isto é, Morgan Tsvangirai passou a ser Primeiro- Ministro de um Conselho de Ministros em que está em minoria.
E tudo isto contrariando a Constituição. Na prática tomaram posse mais 15 ministros do que os previstos na Constituição.
Para conseguir este resultado foram criados cargos de “Ministros de Estado”. Estes Ministros de Estado são pessoas que não têm funções específicas, mas têm gabinetes, salários, regalias várias, alojamento e transporte por conta do Estado. Segundo a Imprensa internacional alguns dos novos ministros receberam já novas limusines Mercedes Benz.
Mas a cereja em cima deste bolo, cozinhado por Mugabe e pela sua pandilha, foi a prisão, poucas horas antes da tomada de posse, do Vice-Ministro da Agricultura, Roy Bennet, indicado pelo MDC, acusado de terrorismo e outras coisas do género. No momento em que te escrevo creio que ainda continua detido.
Todas estas tropelias se passam perante um cenário de pilhagem desenfreada dos bens do país.
Depois dos festejos faustosos do aniversário natalício do Mugabe, vão chegando notícias de que está a adquirir bens de luxo no Extremo Oriente, nomeadamente uma grande mansão, uma fábrica de lapidação de diamantes, etc..
E não é mau recordarmos que se disse, na época, que a presença de tropas zimbabueanas na guerra civil do Congo Democrático se destinou a retirar de lá grandes quantidades de diamantes, de que a região é rica.
Diz-se também que, por altura da tomada de posse, mais umas dezenas de farmas foram ocupadas pelos partidários do Mugabe.
E, em relação ao espírito de reconciliação, parece-me que está tudo dito...
Quanto tempo vai durar esta forma de acomodação, não sei. Mas creio que os elementos do MDC não vão conseguir manter a ordem e aumentar a prosperidade num país em que este tipo de coisas continua a acontecer, debaixo do olhar calmo dos dirigentes da região.
Um abraço para ti, José António, do
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ - 26.02.2009