O ATRASO que se verifica na prestação de assistência alimentar às cerca de cinquenta mil pessoas carenciadas no distrito de Mogincual, em Nampula, por parte das autoridades governamentais provinciais poderá resultar numa tragédia, pois, neste momento, os tubérculos venenosos, frutos silvestres constituem o único meio para a sobrevivência.
O Governo distrital refere que nove óbitos registados naquele local, não são consequência directa da fome, enquanto que as populações asseguram que as vítimas sucumbiram por falta de alimentos para o seu consumo.
O distrito de Mogincual tem uma população estimada em 98 mil habitantes, o que significa que mais de metade está assolada pela fome, fenómeno originado pelo ciclone Jokwé que na sua passagem há cerca de um ano devastou infra-estruturas sociais económicas, incluindo as culturas na fase de maturação. A reconstrução das casas destruídas exigiu um esforço financeiro da parte dos afectados que neste momento não tem capacidade de compra dos produtos disponíveis no mercado informal.
Oliveira Rareque, administrador de Mogincual, referiu que a fome é generalizada nos postos administrativos de Quinga e Namige no litoral, onde a incidência do ciclone foi maior, e localizada em Quixaxe e na sede distrital na parte interior. O esforço do Governo distrital para minimizar o impacto da devastação das culturas pelo ciclone, incidiu na disponibilização de insumos agrícolas aos produtores incluindo estacas de mandioca.
Acrescentou que o Governo provincial prometeu fazer o envio há algumas semanas de quantidades de produtos alimentares cuja distribuição gratuita e através do programa comida pelo trabalho aos carenciados estaria a cargo do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, INGC, delegação de Nampula. Contudo, até ao momento nenhuma quantidade de produtos chegou aos necessitados.
“A informação que temos e ainda por confirmar, é de que mais de quinhentos idosos em situação alimentar critica estão a beneficiar de um cabaz básico disponibilizado por parte da Instituto Nacional de Acção Social em Nampula” – disse Rareque, acrescendo que o pior está para vir na medida que o distrito está a sofrer uma estiagem que ameaça deitar a abaixo todo o esforço empreendido pelos produtores que prepararam para esta campanha agrícola cerca de 107 mil hectares contra pouco mais de 70 mil hectares programados.
Destacou que o grupo Miranda, que empregava pouco mais de mil trabalhadores na sua fabrica de descasque de castanha de caju localizada no posto administrativo de Namige, vai encerrar as portas. Com efeito o processo de despedimento da mão-de-obra já iniciou e cerca de metade daquele numero recebeu as suas indemnizações. O governante referiu que o proprietário daquela unidade fabril alega encargos elevados com combustíveis para alimentar o gerador que produz electricidade o qual garante o funcionamento de áreas vitais.
Para Oliveira Rareque, este facto significa um golpe duro, sobretudo para as populações que procuram emprego para garantir o poder de compra e sua sobrevivência, pois, naquele distrito o maior empregador é o Governo com mais de 600 funcionários.
No que toca à ocorrência de óbitos, o governo de Mogincual refere que não registou nenhum caso directamente relacionado com a fome, senão de cerca de nove idosos que teriam morrido em Namige por abandono por parte dos respectivos parentes. Enquanto isso a população refere que os óbitos estão relacionados com a fome, incluindo de uma mulher que se enforcou na passada quinta-feira em Liupo por alegadamente não suportar o sofrimento por falta de alimentos situação que afecta a família carenciada de que era chefe composta por quatro membros.