MAIS de 150 membros da Renamo, na província de Cabo Delgado, declararam publicamente, sexta-feira última, o seu afastamento do partido e consequente adesão a um movimento que visa a criação de um novo partido político, a ser liderado por Daviz Simango, actual presidente do Conselho Municipal da Cidade da Beira.
Dos vários nomes sonantes, destacam-se Eduardo Pintane, então chefe da comissão política provincial, Juma Rafim, da área de mobilização, Luís Culaire, do sector de estatística, Catarina Ratibo e Namoja Ali, da liga feminina, e Adriano Eduardo, da liga da juventude. Pintane, que já foi deputado da Assembleia da República pela bancada da Renamo, acabava de ser designado para as funções de chefia em finais do mês passado, substituindo Cornélio Quivela, destituído do cargo por ordens do presidente do partido, Afonso Dhlakama.
A nível da Comissão Política da cidade de Pemba destacam-se Xavier Amade, Mussa Lourenco e António Romano.
A renúncia aconteceu no decurso de um encontro orientado por Luís Maúne, então quadro sénior da Renamo e que na altura se identificou como mandatário do projectado Movimento Democrático de Moçambique, cujo núcleo fundador se encontra na cidade da Beira.
Eduardo Pintane disse que os recentes problemas ocorridos na delegação política provincial da Renamo em Cabo Delgado e que culminaram com a sua indicação para o cargo de chefia deram-no indicações claras de que este partido está cada vez mais distante de constituir alternativa política em Moçambique, conclusão a que chega volvidos 17 anos de filiação nesta organização.
“Quando aderi à Renamo há sensivelmente 17 anos não precisava de nenhum bem material. Aliás, pelo contrário, dei à Renamo o pouco que eu tinha como empresário. Mas agora conclui que este partido não vai longe. São derrotas consecutivas, cujo responsável número um é o presidente do partido, Afonso Dhlakama”, queixou-se.
Lembrou que em 1994, durante as primeiras eleições legislativas e presidenciais, numa decisão inexplicável e de última hora, Afonso Dhlakama ordenou a retirada dos delegados de mesa da Renamo dos postos de votação para instantes depois mandá-los de volta. Recordou ainda que em 1999, numa altura em que a Renamo gozava de muita simpatia no seio do eleitorado, Afonso Dhlakama criou problemas no partido com a expulsão de Raul Domingos, facto que dividiu seriamente esta organização política. Frisou que antes, em 1998, Afonso Dhlakama tinha decidido afastar o partido da corrida para as eleições autárquicas, sendo que o resultado de todas estas manobras foram as derrotas pesadas do partido em todos os pleitos eleitorais.
“Há dias, Afonso Dhlakama mandatou uma brigada que veio a Pemba destituir o delegado político, colocando outros elementos na direcção do partido nesta cidade. Essa decisão não agradou a muitos militantes, a maior parte dos quais está hoje de malas aviadas para o novo projecto político”, disse.
Acrescentou que estes problemas estão a ser geridos desde há bastante tempo mas porque atrasam politicamente o partido e os seus membros que aspiravam novos voos outra solução não existe senão abraçar o projecto liderado por Daviz Simango.
Juma Rafim que já foi delegado político distrital de Ancuabe e ultimamente chefe provincial da mobilização e membro do conselho nacional, denuncia a falta de clareza na direcção da Renamo e olha para o futuro movimento democrático com muita seriedade.
Sobre alegações de que foi destituído das suas anteriores funções em conexão com ligações ao movimento de Daviz Simango, Juma Rafim respondeu que tudo são desconfianças.
“De facto esteve cá uma brigada desse movimento, mas não chegou a reunir com ninguém. A maneira como fui destituído amargurou-me bastante e vi que não havia seriedade na Renamo”, explicou.MAINGUE AMEAÇA DISSIDENTES DA “PERDIZ”
Entretanto, o “Notícias” contactou o chefe nacional da organização e estatística da Renamo, Francisco Maingue, sobre estas dissidências, ao que respondeu:
“Acabo de tomar conhecimento através dos meus chefes que Eduardo Pintane está indisponível para continuar ligado ao partido. Neste momento a comissão provincial está a ser assegurada por Alberto Bacar e Mustagibo Bachir”, indicou.
Soubemos, entretanto, de algumas ameaças de Maingue a certos membros da Renamo que se filiaram ao movimento democrático de Daviz Simango.
António Romão, que até sexta-feira fazia parte da comissão da cidade de Pemba, diz ter recebido do seu antigo correligionário Ambrósio Vicente uma mensagem via telemóvel a dizer que tinham sido identificados todos os traidores do partido e que uma tempestade os iria arrasar.
Entretanto, Ambrósio Vicente negou a autoria dessa mensagem. Disse, por outro lado não conhecer António Romano.“Esses senhores não conseguiram o que queriam na Renamo. Não podemos assim falar de uma Renamo em crise. A Renamo existe em Cabo Delgado”, afirmou.
- Pedro Nacuo