O número de zimbabueanos residentes em Moçambique que estão a regressar ao seu país de origem aumentou significativamente desde a entrada em funções do novo Governo de unidade no Zimbabué, de acordo com as autoridades moçambicanas.
De 11 a
No mesmo período, mas em 2008, nas semanas que antecederam a primeira volta das eleições naquele país, registou-se exactamente o oposto: 8.241 deixaram o Zimbabué, contra 1.341 que regressaram.
A inversão do fluxo na fronteira registou-se, de acordo com as autoridades de Migração moçambicanas, logo no dia da tomada de posse do Governo de unidade, com 942 zimbabueanos a regressarem, contra 187 que atravessavam para Moçambique.
“Há uma tendência de inversão do movimento migratório dos zimbabueanos caracterizado por mais entradas e menos saídas. Actualmente registamos o contrário”, disse à agência Lusa o director provincial de Migração de Manica, Filipe Lucas Cumbe.
O mesmo responsável é mais cauteloso em estabelecer uma relação entre o regresso de um número crescente de zimbabueanos e a tomada de posse do Governo de unidade, embora admita que a criação do executivo conjunto “terá trazido uma tranquilidade” acrescida aos zimbabueanos.
Desde a implementação da reforma agrária, em 2000, registou-se um êxodo maciço de zimbabueanos em direcção aos países vizinhos, em especial para a África do Sul, mas também para Moçambique.
Após as conturbadas eleições no país em Março de 2008 a
Os poucos que entram em Moçambique, continuam a atravessam a fronteira à procura do que não encontram nas prateleiras vazias das lojas daquele pais vizinho.
Para os zimbabueanos residentes em Moçambique, a posse do novo Governo de unidade é vista com esperança.
“Achei oportuno voltar a casa agora e participar do relançamento da economia do país. Mas também gostava de ficar perto para garantir o meu antigo emprego”, disse Gumo Tkchidua, 36 anos, antigo trabalhador de uma fábrica de cerveja, que esperava na fila para carimbar o seu passaporte na fronteira.
Para Trishe Munetsa, 27 anos - que por duas vezes foi repatriada por viver ilegalmente em Moçambique - disse que o seu país está em condições de melhorar a estabilidade social do povo.
“Chegámos a viver em condições catastróficas, sem água, luz, comida e combustível. A economia estava estagnada. Agora estou a regressar em definitivo, porque as coisas vão melhorar no Zimbabué”, disse a comerciante, que desde 2005 compra produtos alimentares em Moçambique para revender no seu país.
A mesma opinião foi expressa por Steven Moyo, 34 anos, que fugiu para Moçambique de “uma vida insuportável” no Zimbabué.
“O que eu ganhava não dava para suportar as despesas e optei por procurar um alívio económico para garantir alimentação, saúde, educação para a minha família. Mas agora acho que estão criadas condições para eu regressar ao país”, disse o antigo funcionário da câmara municipal de Bindura, na região central de Mashonaland.
Porém, nem todos os que regressam revelam a mesma confiança em relação à capacidade de a nova realidade política no Zimbabué se traduzir a curto prazo numa melhoria das condições de vida para os seus cidadãos.
É o caso de Mary (que preferiu não revelar o apelido), para quem ainda existe “muito secretismo” em relação à situação.
“Para este Governo virar a página da actual situação do Zimbabué precisa de muita confiança entre as partes, o que duvido que aconteça em pouco tempo. O que pode acontecer será um governo de aliados”, disse Mary.
Para esta zimbabueana, a ZANU-PF de Robert Mugabe, no poder desde a independência do país em 1980, “ainda tem a capacidade de manobrar” e “sujar a imagem do MDC (oposição)”.
LUSA - 26.02.2009