Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
…é preciso continuar abanando a árvore para que os ramos secos e podres caiam...
Vivemos num regime político extremamente condicionando, dependente e influenciando pelo que o partido político que sempre governou Moçambique desde a Independência considera conveniente ou aplicável. Quase tudo o que constitui a paisagem de organizações ditas da sociedade civil são rebentos ou apêndices do partido no poder. Alguma novidade que surja é essencialmente produto da comunicação social independente, analistas dispersos ou partidos políticos da oposição. Das bandas do poder efectivo no país o que transpira é uma tentativa permanente de açambarcar a opinião e de aparecer como a única alternativa para guiar os destinos deste país que na maioria das vezes não parece de todos mas de uma minoria que acontece ser a mesma que participou na luta contra o colonialismo. Fora raras excepções quase todas as organizações da sociedade civil alinham a sua actuação pelos pontos de vista do poder vigente. É extremamente difícil funcionar fora dos parâmetros desenhados pelo partido no poder. Por facilidade de intervenção e sobretudo pela aquisição mais fácil de meios quando se alinha com quem governa, vemos quase todos procurando resolver os seus problemas existenciais através disso. No fim é o que se vê!...Todos ralham, todos reclamam e todos têm medo de dar a cara. Que estes posicionamentos cúmplices tem influência directa negativo no processo de implantação da democracia no país é sobejamente sabido, mas a barriga geralmente fala mais alto que a cabeça e a hipocrisia leva-nos para um campo que um dia pode ser fatal. É certo que se tivesse havido ao longo dos anos uma participação historicamente responsável da dita sociedade civil e dos intelectuais moçambicanos do país a governação do país seria bem melhor nos dias de hoje. O estado das coisas seria muito melhor para mais pessoas. Muitos dos resultados que as sucessivas eleições trouxeram até ao presente foram forjados por entidades que se supunham da sociedade civil mas que se verificou depois serem membros do partido no poder, actuando realmente como seus funcionários e burocratas. Desde padres e intelectuais quase toda a cúpula da CNE ao longo de anos cumpriu escrupulosamente com ordens e instruções do executivo e seu partido. A história tem registado tudo o que aconteceu nesses processos e há provas bastantes de que os resultados teriam sido outros se não houvesse uma mão mágica auxiliando o partido no poder. Até agora era pouca a atenção dada ao assunto pelos diversos quadrantes da sociedade. Com o tempo e com a pressão que as condições difíceis de vida representam para a maioria dos moçambicanos, tem-se levantado um número crescente de vozes questionando porque se vive tão mal em Moçambique, salvo excepções que iludem. As respostas ou a sua procura tem desembocado quase sempre na política vigente. AS pessoas finalmente começam a não esconder a sua insatisfação e a indignação pode crescer abruptamente a qualquer instante e de forma relativamente inesperada. A pressão externa também tem desempenhado a sua quota parte nesta busca ou procura de explicações para tanto insucesso no que respeita à insatisfação das necessidades dos moçambicanos. Não é fácil explicar coisa alguma pela ausência de recursos quando se vê todos os dias um exercício de autêntico esbanjamento dos mesmos em que o Estado e os seus agentes nos aparecem em atitudes chocantes de fausto. Também não cola ou não corresponde à verdade que o país ainda não possui os recursos humanos e os instrumentos necessários para explorar seus recursos naturais e daí promover a riqueza e satisfação das necessidade dos seus cidadãos. As desinteligências internas no partido no poder, a ambição pelo poder, a insatisfação de muitos dos que participaram na Luta de Libertação Nacional, a falta manifesta de soluções dos sucessivos executivos em abordar com sucesso os problemas de que o país sofre; a emergência de uma oposição cada vez mais adulta e esclarecida, tudo se tem conjugado para que o questionamento da justeza e oportunidade da linha seguida pelo governo para lidar com os problemas do país, seja hoje mais efectivo. É assim que se questionam determinados processos de tomada de decisões e se questionam os fundamentos de nomeações das pessoas que têm vindo a ser nomeadas ao longo de anos para o exercício de cargos administrativos públicos. Os moçambicanos parece estarem a acordar, felizmente. Agora são capazes, mesmo que os seus partidos políticos não o digam, de questionar a sua situação, cada vez mais precária. As vozes começam a levantar-se sem medo. Os cidadãos começam a assumir que é preciso começar a agir com dignidade porque a cidadania assim o exige. Desses questionamentos que se tem desenvolvido começa a emergia rapidamente a consciência de que as coisas estão assim no País, mal para a esmagadora maioria, porque quem governa o faz mal. É tão simples como isto. O argumento de que é necessário mais tempo não agrada a quem está sofrendo na pele os resultados de uma governação mais preocupada em satisfazer as necessidades muitas vezes supérfluas dos governantes e seus familiares, do que os problemas de milhões de cidadãos. É toda uma maneira de estar no governo que os moçambicanos começam a questionar com cada vez mais argumentos. O tempo em que era possível discursar e convencer cidadãos com discursos vazios está terminando, a olhos vistos. Agora as pessoas querem saber muito mais e uma tentativa forçada de influenciar processos através da viciação das regras de jogo até já encontra adversários entre gente que ontem abertamente alinhava com o que o executivo e seu partido diziam. Quando se exige que se abrem as portas das cadeias que amarram consciências, quando o povo começa a perceber que só tem vantagens e dizer não, o bicho da liberdade de expressão salta fora torna-se complicado controlar os desfechos. E cada vez mais cidadãos começam a compreender que vale a pena lutar para acabar com os abusos do poder e os erros de governação sistemáticos. O que se pode dizer de momento é que se esperam tempos difíceis para o partido no poder. O aspecto de monopólio da opinião que caracterizava a sua actuação já não possui argumentos nem enquadramento legal. Uma tentativa de governar um país através de processos pouco transparentes e de secretismo mesmo em «dossiers» que deveriam ser abertamente públicos tem dificultado a existência do diálogo que faria os governados compreenderem e aceitarem as dificuldades do momento. Uma falta de preparação e de estudo dos problemas leva a que o executivo seja uma entidade reactiva e com pouca ou nenhuma capacidade de influenciar processos que dependem da conjuntura internacional desfavorável. Um hábito e uma dependência crónica do país em relação ao financiamento de seu orçamento criou uma situação muito pouco salutar. Se antes eram as populações ciclicamente vítimas das calamidades naturais e devido a abordagens fundadas na dependência para resolver o problema, agora é o governo que aparece incapaz de produzir soluções para os problemas que por obrigação deveria agir e resolver. Tudo isto vai contribuir para os moçambicanos se engajem cada vez mais na procura de soluções endógenas e sustentáveis. E o caminho aponta para a política e para o posicionamento dos diferentes partidos políticos. Ninguém pode ficar alheio ao que diz respeito a todos. Esperam-se tempos difíceis mas também empolgantes no país. Só se recomenda é que deixe de haver medo para levar as coisas agora por diante. Não há mais tempo a perder. (Noé Nhantumbo)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 23.02.2009