* A empresa da célebre Revista TEMPO, administrada por ex-ministros, faliu
Aqueles trabalhadores afirmaram em exclusivo a este diário que o patronato lhes retirou quase todos os direitos laborais que detinham e, sob o olhar apático de quem de direito, infringiu vários dos compromissos rubricados com o Governo Central aquando da privatização da Tempográfica. Para já, dizem que produzem todos os dias e o dinheiro entra na empresa mas há cinco meses que não auferem os seus salários. O Ministério do Trabalho diz que a empresa faliu e por isso nada faz.
As viúvas de outros trabalhadores perecidos estão também, por seu turno, há oito meses sem as pensões de reforma e estão sujeitas a viverem de esmolas como se fossem mendigas. Acusam igualmente o presidente do Conselho de Administração (PCA) Abílio Bichinho Alfino de estar a pautar-se pelo “desvio de aplicação do dinheiro da empresa”.
Há anos que são descontados para o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) mas o dinheiro não é canalizado para aquela entidade, facto que priva os trabalhadores em idade de reforma de receberem as suas pensões e os restantes benefícios atribuídos pelos Comité Sindical a seus membros. A empresa que já ostenta indícios claros de uma falência decretada, segundo contaram-nos os trabalhadores, não dispõe de seguros de modo a conferir-lhes segurança. “Tem havido acidentes de trabalho que culminam em mortes e o patronato considera-os naturais”.
Está instalado um mau ambiente laboral de cortar à faca na Tempográfica. Os trabalhadores acusam o patronato de arrogância e de recurso a métodos ditatoriais para salvaguardar interesses alheios aos da empresa e ignora uma série de preocupações da massa laboral. Dizem igualmente que estão proibidos de ficarem doentes. “Corremos o risco de sermos despedidos sem indemnização”.
Os trabalhadores da Tempográfica, SARL disseram à reportagem do «Canal de Moçambique», que a empresa “está sendo dirigida por um Conselho de Administração incompetentes e com órgãos sociais fantasmas, razão pela qual até hoje nenhum sócio apareceu para tentar travar o caos que se vive na empresa”.
Segundo eles, visivelmente aflitos dada a falta de salários, e indignados com outras irregularidades que ali decorrem, nos órgãos sociais daquela empresa é apenas influente a figura do PCA Abílio Bichinho Alfino. Os restantes sócios, nomeadamente Alberto Santos Simão e João Manuel Morais Ventura, presidente e secretário para Assembleia Geral, respectivamente, dizem os trabalhadores que colocaram lá os pés no dia em que a Tempográfica foi considerada uma empresa privada e nada mais. Zeferino A. A. Martins e Zulmira A. Macamo ambos membros do Conselho de Administração presidido por Abílio Bichinho Alfino, também andam em parte incerta desde 2002. Andam igualmente em parte incerta os membros do Conselho Fiscal, nomeadamente o presidente Ernesto Augusto e Alves A. C. Mendonso e Bartolomeu Moisés, estes vogais.
O secretário do Comité Sindical da Tempográfica, João Machel, disse ao «Canal de Moçambique» que devido à situação na empresa os trabalhadores estão completamente desnorteados. “Estamos desestabilizados. Somos pais de famílias e com filhos nas escolas mas há cinco meses não auferimos os nossos salários. Não é por falta de dinheiros porque produzimos todos os dias”.
Com a tristeza visível no rosto, João Machel, rodeado por uma multidão de colegas explanou ainda que desde que a REVISTA TEMPO faliu, em Junho de 2008, a relação entre o patronato e massa laboral na Tempográfica tem vindo a deteriorar-se tal forma que “mesmo com a pressão que temos feito sobre a pessoa do PCA Abílio Bichinho Alfino nada melhora. Pelo contrário as coisas tendem a piorar. Quando exigimos o pagamento dos nossos salários em atraso e horas extras assim como uma solução para tantos outros problemas, o PCA nos ameaça dizendo que vamos conhecer quem é Bichinho. Diz também que vamos receber os nossos salários nas instituições onde fomos meter queixa contra ele. Os nossos vinte por cento já forma vendidos e nenhuma explicação nos dão e ninguém nos consultou”.
A um dado passo da nossa entrevista, João Machel avançou que de há uns tempos para cá o PCA decidiu não honrar com os compromissos rubricados com os clientes da sua empresa, facto que tem feito com que “os clientes retirem os trabalhos que deviam ser executados pela Tempográfica, Sarl e as atribuam a outras instituições que se disponibilizam a trabalhar seriamente. Não paga as comissões”.
“Desde o dia 15 de Dezembro que o PCA não coloca os pés nesta empresa. Trabalhamos de Segunda-feira a Domingo e estamos com horas extras por receber desde 2007 e sem direito de descanso”. “Em caso de doença não nos dá dinheiros para prosseguirmos com os tratamentos hospitalares e diz que é preciso evitar as doenças, sobretudo a morte”, disse João Machel.
João Machel contou ainda que vezes sem conta foi solicitado o Ministério do Trabalho (MITRAB) para ver se resolvia o problema prevalecente mas até agora esses organismo nada fez. “Pelo contrário quando fomos lá expôr o caso o Ministério do Trabalho nos disseram que o conhecimento que tem é que a Tempográfica, Sarl faliu e nenhum trabalhador está lá afecto”.
Por outro lado, Pedro Bebe, trabalhador da Tempográfica disse ao «Canal de Moçambique» que “o que se vive nesta empresa já não é um conflito laboral mas social. Produzimos todos os dias mas o dinheiro não fica nas contas da empresa. O Departamento Comercial quando faz os depósitos o dinheiro é transferido para uma conta particular. Nos últimos dias já não compram material para funcionar mas mesmo assim com o pouco que existe na empresa ainda conseguimos fazer um e outro trabalho conforme a solicitação dos nossos clientes”, concluiu.
Entretanto dizer que vários sócios desta empresa já foram ministros ou vice-ministros de sucessivos governos. (Emildo Sambo e Alexandre Luís)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 23.02.2009