No regulado de Muchilipo, em Nacala
No regulado de Muchilipo, arredores do município de Nacala-Porto, na província de Nampula, vive-se nos últimos tempos uma situação invulgar. Trata-se da disputa do poder tradicional entre o cidadão Essiaca Saíde e o respectivo régulo Muchilipo.
Falando em entrevista exclusiva à reportagem do Canal de Moçambique, o Régulo Muchilipo acusou o seu rival de estar a extorquir bens aos populares alegando ser régulo.
O que torna mais tensa a situação é o facto de o cidadão Saide estar a fazer certas cobranças junto de certas unidades, como são o caso de mesquitas, locais que acolhem cerimónias do tipo de ritos de iniciação, entre outros, diz o verdadeiro régulo. Esta actividade e/ou prática está apenas reservada ao respectivo régulo Muchilipo que agora diz que estão-se a intrometer em assuntos que dizem exclusivamente respeito aos régulos. Muchipilo alega, entretanto que depende dessas cobranças para sobreviver e o outro está a prejudicá-lo.
Neste momento juntam-se às reclamações do régulo muitos cidadãos que residem naquela circunscrição, sobretudo os líderes religiosos, os mais velhos do mesmo regulado, que acreditam que o cidadão Essiaca Saíde “vai-se dar mal com a situação que está a criar”, porque “é mau roubar à nossa própria tradição e com isto não se brinca”.
Mesmo recebendo enormes ameaças, Essiaca Saide diz ser também régulo, legitimado pela família. De acordo com os nossos interlocutores, o cidadão que por força quer tomar o poder tradicional em Muchilipo poderá ter problemas graves na sua vida futura, porque “os espíritos nunca lhe vão perdoar” e, “ele sabe bem disso, apenas quer testar como as coisas funcionam”.
Num outro desenvolvimento desta caracterização do ambiente que se vive entre ambos em nacala-Porto, apuramos que para além de tudo, o cidadão que quer tomar o poder não tem idade suficiente para o efeito, por um lado, e por outro, como se alega, não passou por todas as indicações tradicionais exigidas para o efeito. “Ele não passou por nenhum ritual tradicional que é o vector para atingir o poder tradicional aqui, dai que está se arriscando demais”, refere um cidadão que comenta a situação com o «Canal de Moçambique». São coisas que retratam para além do mais os contornos entre a tradição e a sobrevivência. É a crise ao nosso nível…(Aunicio da Silva) - CANAL DE MOÇAMBIQUE - 31.03.2009