Por Hermínio Paulino Chissico
A edição do dia 20 de Março do Semanário Savana veicula um artigo do senhor Machado da Graça com o título: “Os ladrões de pérola”.
Essencialmente, o mesmo ataca a pessoa do senhor Almerino Manhenje, antigo Ministro do Interior e dos Assuntos de Defesa e Segurança do nosso país, chegando ao ponto de chamar-lhe “ladrão”.
Ora, com este pequeno artigo, queria recordar ao senhor Machado da Graça que na República de Moçambique, todos têm direito ao bom nome, tal como refere a própria Constituição da República: o senhor Almerino Manhenje é, tal como o senhor Machado da Graça, uma pessoa. Merece respeito simplesmente por este facto. Neste momento, o senhor Almerino Manhenje está detido por suspeita de cometimento de algum crime administrativo quando exercia a difícil função de Ministro do Interior. Portanto, este senhor está preso apenas por suspeita aliás, algo insustentável na óptica do juíz que tem em suas mãos o respectivo processo, o que ditou, consequentemente, a redução em cerca de 90% das acusações que sobre si recaiem.
Lendo e relendo o referido artigo nota-se que a intenção do sr. Machado da Graça é de denegrir, simplesmente, a imagem de Almerino Manhenje que à data da sua detenção, era professor do Instituto Superior de Relações Internacionais. O sr. Machado da Graça diz que, cito “...os sinais exteriores de riqueza apresentados por Almerino Manhenje deveriam ter soado como toques de alarme para quem devia estar atento a estas coisas.”!!! Que sinais de riqueza tinha ou tem Manhenje?!!! O senhor conhece ou conheceu Almerino Manhenje?! Quererá dizer, o sr. Machado da Graça, que Manhenje não devia ter um carro em condições, uma casa em condições? Aliás, ainda que tivesse uma vida cómoda não teria uma outra fonte? Por que acha que ele, tendo sinais de riqueza, poderia ser apenas fruto de roubo?
A direcção do Savana deve ter alguma responsabilidade neste tipo de coisas: o senhor Machado da Graça devia trazer provas válidas sob o ponto de vista jurídico, perante a direcção do Savana que lhe permitam dizer que Manhenje é ladrão, tal como afirma. Não apresentando tais provas, a direcção do Savana, dadas as suas responsabilidades perante o público e na observância dos Direitos Fundamentais da imagem e do nome da Pessoa Humana, não devia permitir a respectiva divulgação.
Tenho acompanhado o caso FREEPORT em que o actual primeiro-ministro português é parte suspeita de ter recebido dinheiro, quando ministro do meio ambiente, para permitir que as obras de um empreendimento denominado FREEPORT, tivessem lugar. Toda a imprensa que aborda este caso evita chamar nomes do tipo “CORRUPTO”, “LADRÃO”... ao primeiro-ministro português, exactamente porque ainda se fala de suspeitas. Portanto, ainda não foi julgado.
África e América sofreram invasões por parte de europeus e, em alguns casos, estes mesmos invasores chegaram a aniquilar, através da contaminação de águas, doenças e outras formas, povos inteiros nativos. Moçambique sofreu muito com a colonização de Portugal onde a perspectiva racista era deveras acentuada (a título de exemplo, em Maputo a atribuição de habitação era em função da raça - negros, Chamanculo e Mafalala - onde as questões de saneamento do meio eram terríveis, pardos, próximo ao Alto-Maé e os brancos, no centro urbano). Ainda assim, nenhum moçambicano chama “LADRÃO”, “RACISTA” ou “CRIMINOSO” aos portugueses ou descendentes de portugueses que connosco convivem hoje, porque apesar de nos terem roubado e discriminado, não é correcto chamar a estes descendentes estes nomes.
Não fui mandado ou pedido pelo senhor Manhenje para ir em sua defesa, faço isso sob minha inteira responsabilidade porque não concordo que neste país, certas pessoas que têm o privilégio de possuir um espaço em algum media utilizem esse mesmo espaço para atacar as outras pessoas.
PS. Um dia antes deste mesmo artigo do sr. Machado da Graça sair, uma senhora apareceu nos ecrãs da STV a acusar um grupo de cidadãos de pretenderem roubar a obra do falecido coreógrafo Cuvilas para apresentá-la (vendê-la) na Europa. No dia em que o artigo do sr. Machado da Graça, no qual ataca Almerino Manhenje saiu, a mesma STV mostrou o tal grupo de cidadãos suspeito de pretender roubar a obra de Cuvilas, a se justificar. Um dos componentes desses suspeitos era Machado da Graça!
Tenho dito
SAVANA - 30.03.2009